E o Brasil só é o que é no futebol graças a um índio "aleijado" e a um negro retinto. Obrigado, Mané! Obrigado, Pelé!
Pelé e Mané Garrincha, os dois maiores gênios do futebol brasileiro |
Futebol e racismo
Fui caminhar e, quando estava fazendo uns alongamentos, me aparece um dos bilhões de pacatos e ordeiros torcedores do Invencível Mengão. Daqueles formados pela telinha da Globo nos anos 80 e 90 do século passado e que tem a mais absoluta certeza que o futebol só passou a existir depois do surgimento do Zico- que, na cabeça do "urubuminion", jogou infinitamente mais que Garrincha e Pelé... juntos!
Depois de irritá-lo bastante, tomei meu rumo... Um dos prazeres da vida, da minha, ao menos, é desmontar as "verdades absolutas" de fanáticos de qualquer espécie. Sim, sei que não vou mudar a opinião deles, até porque a fé é mais forte que a razão. Pensar cansa e gera dúvidas. Mas irritar um fanático, além de ser uma tarefa fácil, é uma delícia!
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Do Barão para John Textor
“Olé” nasceu no México“O Estádio Universitário ficou à cunha. Cem mil pessoas comprimidas para assistir ao jogo. É muito alegre um jogo no México. É o país em que a torcida mais se parece com a do Rio de Janeiro. Barulhenta, participa de todos os lances da partida.Vários grupos de ‘mariaches’ comparecem. Estes grupos, que formam o que há de mais típico da música mexicana, são constituídos de um ou dois “pistões” e clarins, dois ou três violões, harpa (parecida com a das guaranias), violinos e marimbas. As marimbas são completamente de madeira, mas não vão ao campo de futebol, sendo substituídas por instrumentos pequenos. O ponto alto dos ‘mariaches’ é a turma do pistão, do clarim e o coro, naturalmente. No campo de futebol, os grupos amadores de ‘mariaches’ que comparecem ficam mais ativos em dois momentos distintos: ou quando o jogo está muito bom e eles se entusiasmam, ou, inversamente, quando o jogo está chato e eles “atacam” músicas em tom gozador. No jogo em que vencemos ao Toluca, que estava no segundo caso, os ‘mariaches’ salvaram o espetáculo.O time do River era, realmente, uma máquina. Futebol bonito e um entendimento que só um time que joga junto há três anos pode ter. Modestamente, jogamos trancados. A prudência mandava que isto fosse feito. De fato, se ‘abríssemos’, tomaríamos um baile.Foi um jogo de rara beleza. E não foi por acaso. De um lado estavam Rossi, Labruña, Vairo, Menéndez, Zarate, Carrizo. De outro, estavam Didi, Nilton Santos, Garrincha etc. Jogo duro e jogo limpo. Não se tratava de camaradagem adquirida em quase um mês no mesmo hotel, mas sim da presença de grandes craques no gramado. A torcida exultava e os ‘mariaches’ atacavam entusiasmados.Estava muito difícil fazer gol. Poucas vezes vi um jogo disputado com tanta seriedade e respeito mútuos. Mas houve um espetáculo à parte. Mané Garrincha foi o comandante. Dirigiu os cem mil espectadores. Fazendo reagirem à medida de suas jogadas. Foi ali, naquele dia, que surgiu a gíria do ‘Olé’, tão comumente utilizada posteriormente em nossos campos. Não porque o Botafogo tivesse dado “Olé” no River. Não. Foi um “Olé” pessoal. De Garrincha em Vairo.Nunca assisti a coisa igual. Só a torcida mexicana com seu traquejo de touradas poderia, de forma tão sincronizada e perfeita, dar um ‘Olé’ daquele tamanho. Toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamava: ‘Ôôôôô’! O som do “olé” mexicano é diferente do nosso. O deles é o típico das touradas. Começa com um ô prolongado, em tom bem grave, parecendo um vento forte, em crescendo, e termina com a sílaba “lé” dita de forma rápida. Aqui é ao contrário: acentua-se mais o final ‘lé’: ‘Olééé!’ – sem separar, com nitidez, as sílabas em tom aberto.Verdadeira festa. Num dos momentos em que Vairo estava parado em frente a Garrincha, um dos clarins dos ‘mariaches’ atacou aquele trecho da Carmem que é tocado na abertura das touradas. Quase veio abaixo o Estádio Universitário. Numa jogada de Garrincha, Quarentinha completou com o gol vazio e fez nosso gol. O River reagiu e também fez o dele. Didi ainda fez outro, de fora da área, numa jogada que viera de um córner, mas o juiz anulou porque Paulo Valentim estava junto à baliza. Embora a bola tivesse entrado do outro lado, o árbitro considerou a posição de Paulinho ilegal. De fato, Paulinho estava ‘off-side’. Havia um bolo de jogadores na área, mas o árbitro estava bem ali. E Paulinho poderia estar distraindo a atenção de Carrizo.O jogo terminou empatado. Vairo não foi até o fim. Minella tirou-o do campo, bem perto de nós no banco vizinho. Vairo saiu rindo e exclamando: “No hay nada que hacer. Imposible” – e dirigindo-se ao suplente que entrava, gozou:– Buena suerte muchacho. Pero antes, te aconsejo que escribas algo a tu mamá.O jogo terminou empatado e uma multidão invadiu o campo. O ‘Jarrito de Oro’, que só seria entregue ao “melhor do campo” no dia seguinte, depois de uma votação no café Tupinambá, foi entregue ali mesmo a Garrincha. Os torcedores agarraram-no e deram uma volta olímpica carregando Mané nos ombros. Sob ensurdecedora ovação da torcida. No dia seguinte, os jornais acharam que tínhamos vencido o jogo, considerando o tal gol como válido. Mas só dedicaram a isto poucas linhas. O resto das reportagens e crônicas foi sobre Garrincha.As agências telegráficas enviaram longas mensagens sobre o acontecimento e deram grande destaque ao ‘Olé’. As notícias repercutiram bastante no Rio e a torcida carioca consagrou o ‘Olé’. Foi assim que surgiu este tipo de gozação popular, tão discutido, mas que representa um sentimento da multidão.Já tentaram acabar com o ‘Olé’. Os árbitros de futebol, com sua inequívoca vocação para levar vaias, discutiram o assunto em congresso e resolveram adotar sanções. Mas como aplicá-las? Expulsando a torcida do estádio? Verificando o ridículo a que estavam expostos, deixam cada dia mais o assunto de lado. É melhor assim. É mais fácil derrubar um governo do que acabar com o ‘Olé’.Não poderia ter havido maior justiça a um jogador que a que foi feita pelos mexicanos a Mané Garrincha. Garrincha é o próprio ‘Olé’.Dentro e fora de campo, jamais vi alguém tão desconcertante, tão driblador. É impossível adivinhar-se o lado por onde Mané vai ‘sair’ da enrascada. Foi a coisa mais justa do mundo que Garrincha tivesse sido o inspirador do ‘Olé’.(João Saldanha. “Os Subterrâneos do Futebol”). [Fonte: Deixa Falar]
Mané Garrincha, a alegria do povo, o mais querido jogador guardado na memória afetiva do povo brasileiro |
Camisa que Armando Albano usava quando morreu. Em 11 de Junho de 1942 os dois cubes com o mesmo nome, BOTAFOGO - BOTAFOGO FOOTBALL CLUB e CLUB DE REGATAS BOTAFOGO, disputavam uma partida pelo campeonato carioca de basquete no ginásio Mourisco Mar, em Botafogo. Quando o placar apontava: BOTAFOGO FOOTBALL CLUB 23 x 21 CLUB DE REGATAS BOTAFOGO, Albano sentiu-se mal e teve um mal súbito e veio a falecer minutos depois.
O processo da Fusão entre os dois clubes já era debatido entre os dirigentes dos clubes, mas foi acelerado como uma homenagem em atas na noite do dia 8 de dezembro de 1942.
Pesquisa: Livro BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, HISTÓRIAS E CONQUISTAS NO FUTEBOL, por Antõnio Carlos Napoleão, pags 22-23 - Ed MAUAD
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