Antonio João, os 71 anos de uma glória de São José do Calçado

Alguns anos atrás meu pai, Tonico, foi homenageado na Festa do Calçadense Ausente. Solenidade na Câmara de Vereadores. Discursava Antonio Borges, então prefeito de Calçado. De repente chega o Antonio João com seu violão, interrompe o discurso e diz: "Eu vim homenagear meu amigo Tonico!"

E cantou "Atiraste uma pedra", música de Herivelto Martins e David Nasser, a preferida de meu pai.

Choramos todos. Foi a maior homenagem que meu pai recebeu e a que guardava com maior carinho em seu imenso coração. O filho no dia de seu aniversário, agradece em nome do pai: " Obrigado, Antonio João, muito obrigado!"

Falar mais o quê? Que você, se tivesse nascido uns 20 anos antes, teria tido a fama que merecia? Besteira, seu povo, o povo de Calçado te ama e tem imenso orgulho de você, pois como disse o grande Fernando Pessoa: "Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia

E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente, 
É mais livre e maior o rio da minha aldeia."

Que a data se repita por infinitos anos... Parabéns!

Atiraste uma pedra

Herivelto Martins e David Nasser

Atiraste uma pedra no peito de quem só te fez tanto bem

E quebraste um telhado, perdeste um abrigo
Feriste um amigo
Conseguiste magoar quem das mágoas te livrou

Atiraste uma pedra com as mãos que essa boca
Tantas vezes beijou
Quebraste um telhado
Que nas noites de frio te servia de abrigo
Perdeste um amigo que os teus erros não viu
E o teu pranto enxugou

Mas acima de tudo atiraste uma pedra
Turvando esta água
Esta água que um dia, por estranha ironia
Tua sede matou
Atiraste uma pedra no peito de quem
Só te fez tanto bem

Antonio Joao Pimentel da Silva Esta foto foi distribuida para divulgação do LP "Nossos Caminhos", gravado pela Tapcar, nos anos setenta, quando ainda era contratado pela TV Tupi. Anos depois, retornei para o Espírito Santo para assumir o cargo de Promotor de Justiça, hoje aposentado.Foi o fim da minha carreira como cantor profissional. De quando em vez, canto para meus amigos e familiares, mesmo porque, a música é vida para mim

Histórias engraçadas de São José do Calçado

Seu Jovelino e Pedro Teixeira

Pedro Teixeira, grande figura humana, escritor, jornalista e boêmio, havia se mudado para o Rio. Tempos depois volta a Calçado e encontra-se como seu Jovelino Tatagiba, já um tanto ou quanto surdo devido ao avançar da idade. E dá-se o seguinte diálogo:

- Oi, seu Jovelino, tudo bem com o senhor?
- Indo...Você tá trabalhando em que no Rio, meu filho?
- Sou jornalista- responde Pedro.
-Não, meu filho, farrista você já era quando saiu daqui, perguntei qual seu trabalho?

Zezé Borges e Alcebíades Gonçalves

Seu Alcebíades havia comprado uma fazenda vizinha à Fazenda Velha, de propriedade de Zezé Borges, pai do Antonio Borges e avô do Juquita e do Saragaia. Muito caprichoso, havia deixado a fazenda um brinco. Na divisa das fazendas havia uma nesga de terra ainda virgem chamada Matinha, que pertencia a seu Zezé, que já estava bem idoso. Um dia encontram-se os dois fazendeiros na bela praça de Calçado e dá-se o seguinte diálogo:

- Zezé, você não quer me vender a Matinha?
- Quero não, Alcebíades!
- Mas é só um pedacinho de terra à toa?
- E pra que você quer?
- Prometo que vou manter como está, é só pra enfeitar minha fazenda, eu arrumei ela toda, viu como ficou?
- Vi, você é muito caprichoso e trabalhador...
- Então, vai me vender?
- Não, mas se é só pra enfeitar, pode dizer a todo mundo que é sua que eu confirmo, só não te dou a escritura!

Adelino Tatagiba e Tonico

Um sujeito havia comprado umas terras vizinhas à Fazenda de Adelino Tatagiba lá pelas bandas de São Benedito, se não me engano. Surgiu um boato que o tal cidadão, que tinha fama de bravo, andava mudando a cerca que dividia as terras dele e do Adelino, que também era bravo. Um belo dia, na porta da Casa Libaneza, meu pai, Tonico, que adorava uma molecagem, encontra com Adelino e provoca:
- Adelino, tão dizendo que o fulano anda invadindo suas terras, você vai deixar por isso mesmo?
- Antonico, disse ele, puxando sua  calça com os cotovelos como era de seu feitio, mexendo na cerca ele tá, mas se chegar nas minhas terras eu encho a cara dele de tiro na hora!

Altanor e Jilozinho

Altanor era um severo professor de matemática. Prova oral. Ele, sério e compenetrado, pergunta ao Jilozinho:

- Ricardo, dezena dezoito, quais seus seus vizinhos?
Jilozinho, com sua cara larga e cínica manda, com a maior certeza do mundo:

- Essa é mole, "fessor"! Do lado esquerdo o Jamil da Verconda, do lado direito o Mané Luís!
Dizem que para preservar sua sanidade mental, o pobre Altanor o aprovou.

Darlene Glória: uma Glória de São José do Calçado

Darlene Glória é a maior Glória de São José do Calçado ( ES ), filha mais famosa da minha linda e amada terra natal. Filha querida que nunca negou suas origens, mesmo no auge da fama.
Mas quero é falar sobre um fato hilário que aconteceu quando da inauguração do Montanha Clube que meu pai, Tonico, primeiro presidente do clube, adorava contar.
Quando o Montanha foi ser inaugurado, eu não tenho certeza, mas creio que foi em 1964 ou 1965, a principal atração das festividades seria um desfile da Darlene, que estava no auge de sua beleza ímpar e gentilmente foi participar da pomposa efeméride.
A ansiedade tomava conta de todos, ávidos por ver a bela- talvez a mais bela mulher já produzida por lá- atriz calçadense, desfilando para seus conterrâneos.
Quando a Darlene entra na passarela, gloriosamente fulgurante, um político muito conhecido e querido na cidade, que estava sentado na cadeira atrás de meu pai, vai em seu ouvido e diz: - "Tonico, isso é que é mulher, não aquela jararaca peçonhenta que eu tenho lá em casa!"
Infelizmente não posso contar o nome do "santo" pois ele e sua esposa ainda são vivos.
Meu pai contava esta história, ria, e completava: - "O pior é que quase passei mal sem poder rir, o momento era solene."



Quem quiser conhecer um pouco mais sobre a carreira da Darlene vá na Wikipédia