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13 de fevereiro de 2021

Melhor idade é a puta que te pariu – a melhor idade é de 18 aos 40 anos- Ruy Castro.

 Melhor idade é a puta que te pariu – a melhor idade é de 18 aos 40 anos…

Por Ruy Castro.


A voz em Congonhas anunciou: "Clientes com necessidades especiais, crianças de colo, melhor idade, gestantes e portadores do cartão tal terão preferência etc.". Num rápido exercício intelectual, concluí que, não tendo necessidades especiais, nem sendo criança de colo, gestante ou portador do dito cartão, só me restava a "melhor idade" – algo entre os 60 anos e a proximidade da morte.

Para os que ainda não chegaram a ela, "melhor idade" é quando você pensa duas vezes antes de se abaixar para pegar o lápis que deixou cair e, se ninguém estiver olhando, chuta-o para debaixo da mesa. Ou, tendo atravessado a rua fora da faixa, arrepende-se no meio do caminho porque o sinal abriu e agora terá de correr para salvar a vida. Ou quando o singelo ato de dar o laço no pé esquerdo do sapato equivale, segundo o João Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade olímpica.

Privilégios da "melhor idade" são o ressecamento da pele, a osteoporose, as placas de gordura no coração, a pressão lembrando placar de basquete americano, a falência dos neurônios, as baixas de visão e audição, a falta de ar, a queda de cabelo, a tendência à obesidade e as disfunções sexuais. Ou seja, nós, da "melhor idade", estamos com tudo, e os demais podem ir lamber sabão.

Outra característica da "melhor idade" é a disponibilidade de seus membros para tomar as montanhas de Rivotril, Lexotan e Frontal que seus médicos lhes receitam e depois não conseguem retirar.

Outro dia, bem cedo, um jovem casal cruzou comigo no Leblon. Talvez vendo em mim um pterodáctilo(que têm os dedos ligados por uma membrana) da clássica boemia carioca, o rapaz perguntou: "Voltando da farra, Ruy?". Respondi, eufórico: "Que nada!

Estou voltando da farmácia!". E esta, de fato, é uma grande vantagem da "melhor idade": você extrai prazer de qualquer lugar a que ainda consiga ir.

Primeiro, a aposentadoria é pouca, quase uma esmola, e você tem que continuar a trabalhar para melhorar as coisas. Depois vem a condução.

Você fica exposto no ponto do ônibus com o braço levantado esperando que algum motorista de ônibus te veja e por caridade pare o veículo e espere pacientemente você subir antes de arrancar com rapidez como costumam fazer.

No outro dia entrei no ônibus e fui dizendo: – "Sou deficiente".

O motorista me olhou de cima em baixo e perguntou: – "Que deficiência você tem?"

– "Sou broxa!"

Ele deu uma gargalhada e eu entrei.

Logo apareceu alguém para me indicar um remédio. Algumas mulheres curiosas ficaram me olhando e rindo…

Eu disse bem baixinho para uma delas:

– "Uma mentirinha que me economizou R$ 3,00, não fica triste não", foi só para viajar de graça.

Bem… fui até a pedra do Arpoador ver o por do sol.

Subi na pedra e pensei em cumprir o ritual que costuma ser feito pelos mais jovens no local. Logicamente velho tem mais dificuldade. Querem saber?

Primeiro, tem sempre alguém que quer te ajudar a subir: "Dá a mão aqui, senhor!!!"

Hum, dá a mão é o cacete, penso, mas o que sai é um risinho meio sem graça.

Sentar na pedra e olhar a paisagem era tudo o que eu queria naquele momento.

É, mas a pedra é dura e velho já perdeu a bunda e quando senta sente os ossos em cima da pedra, o que me faz ter que trocar de posição a toda hora.

Para ver a paisagem não pode deixar de levar os óculos se não, nada vê.

Resolvo ficar de pé para economizar os ossos da bunda e logo passa um idiota e diz:

– "O senhor está muito na beira pode ter uma tontura e cair."

Resmungo entre dentes: … "só se cair em cima da sua mãe"… mas, dou um risinho e digo que esta tudo bem.

Esta titica deste sol esta demorando a descer, então eu é que vou descer, meus pés já estão doendo e nada do por do sol.

Vou pensando – enquanto desço e o sol não – "Volto de metrô é mais rápido…"

Já no metrô, me encaminho para a roleta dos idosos, e lá esta um puto de um guarda que fez curso, sei eu em que faculdade, que tem um olho crítico de consegue saber a idade de todo mundo.

Olha sério para mim, segura a roleta e diz:

– "O senhor não tem 65 anos, tem que pagar a passagem."

A esta altura do campeonato eu já me sinto com 90, mas quando ele me reconhece mais moço, me irrompe um fio de alegria e vou todo serelepe comprar o ingresso.

Com os pés doendo fico em pé, já nem lembro do sol, se baixou ou não dane-se. Só quero chegar em casa e tirar os sapatos…

Lá estou eu mergulhado em meus profundos pensamentos, uma ligeira dor de barriga se aconchega… Durante o trajeto não fui suficientemente rápido para sentar nos lugares que esvaziavam…

Desisti… lá pelo centro da cidade, eu me segurando, dei de olhos com uma menina de uns 25 anos que me encarava… Me senti o máximo.

Me aprumei todo, estufei o peito, fiz força no braço para o bíceps crescer e a pelanca ficar mais rígida, fiquei uns 3 dias mais jovem.

Quando já contente, pelo menos com o flerte, ela ameaçou falar alguma coisa, meu coração palpitou.

É agora…

Joguei um olhar 32 (aquele olhar de Zé Bonitinho) ela pegou na minha mão e disse:

– "O senhor não quer sentar? Me parece tão cansado?"

Melhor Idade ??? – Melhor idade é a puta que te pariu !


Ruy Castro é escritor e jornalista, trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda.

19 de dezembro de 2020

Com a a morte do Alcides Paraíba foi-se parte de minha juventude

 O tocador quer beber

Ontem (18), com a morte do Alcides Paraíba lá em São José do Calçado-ES, a cidade onde nasci, foi-se mais uma parte de minha juventude.
Alcides era uma figuraça, daquelas que só as pequenas cidades do interior produzem. E acabam por virar lenda.
A turma reunida no bar do Jorge ou no Crissaf. Lá pelas tantas, o Alcides é convocado para cantar na serenata que resolvemos desorganizar. Após reforçar bem o estoque de pinga, cerveja e vodca, partíamos para perturbar o sono alheio.
Escolhida a primeira "vítima" da homenagem, parávamos na calçada e o Alcides soltava a voz... mas logo a prendia novamente.
Era mais ou menos assim:
Boemia aqui me tens de regresso... E ficava em obsequioso silêncio o nosso Alcides.
- O que foi, Alcides?
- O tocador quer beber!- respondia, ele, sério. Alguém lhe passava o copo, ele dava uma generosa beiçada, e recomeçava a cantoria:
E suplicante te peço a minha nova inscrição
Voltei pra rever os amigos que um dia
Eu deixei a chorar de alegria, me acompanha o meu violão... E parava novamente.
- Porra, Alcides, o que foi dessa vez?
- O tocador quer beber...
E assim a ladainha do bom Alcides ia noite adentro. Descanse em paz, meu amigo.



29 de julho de 2020

Meu filho faz 34 anos hoje

Hoje (29/07/2020) meu filho, Leonardo Lahud, está completando 34 anos. O Léo é a melhor coisa que me aconteceu na vida. Um filho maravilhoso em todos os sentidos. Para não dizer que não tem defeitos, aponto os dois mais graves dele, principalmente o primeiro, ambos herdados da mãe: o time, é torcedor do Fluminense, e o mau humor quando acorda, embora bem melhor que o de sua geniosa mamãe- um ser irascível quando abre os olhos. Do pai, bem, do papai aqui,  herdou a beleza, a inteligência, o bom humor e a extrema humildade.

Parabéns, meu filho! Seu pai te ama!

Seu pai
Meu filho
Pode não ser o melhor pai do mundo
Até porque o melhor pai do mundo
Deve ser o sujeito mais chato do mundo
Mas pode ter certeza:
Eu sou o melhor pai que sei ser
E te amo como o melhor pai do mundo
Beijo!
(09/08/2014) 


Léo com uns 2 anos

7 de maio de 2020

Tiziu, o amigo que só ficou triste uma vez

Se há algo sagrado são os amigos! O prazer de estar junto deles é a única medida de valor que nos une. 

Certa feita, estava sentado só na praça do Ingá, em Niterói. Triste, muito triste estava, quando chega o Tiziu, querido amigo de ébrias jornadas, e companheiro inseparável de sofrimento na saga botafoguense de 21 anos sem título. Chegou, sentou-se ao meu lado e disse: 

- Está triste, né?

- Tô!-respondi, seco.

Acendeu um cigarro e ficou sentado ao meu lado, quieto, fumando calmamente. Passado alguns minutos, perguntei a ele: 

- Como é, não vai falar nada? Vai ficar aí sentado me olhando com essa cara de palhaço?!

- Ué, você não está triste?  Vim aqui ficar triste com você. E calou-se.

Passam-se uns minutos e, incisivo, ele diz: 

- Bem, agora chega de ficar triste! Vamos lá no papai Serafim (nosso boteco de estimação) beber um Nadir Figueiredo cheio de alegria! Traduzindo: Nadir Figueiredo é a marca do copo, alegria a "purinha", que ele tanto adorava. E fomos... Eu triste, ele em sua tristeza solidária, beber "alegria."

No meu aniversário, no dele e em qualquer vitória de nosso destrambelhado e querido Botafogo o porre era sagrado! Até que ele se foi, vítima de uma bala perdida- que, infelizmente, achou meu amigo em seu caminho insano.

Hoje, neste exato momento, vejo o Tiziu, a pele brilhando de tão pretinha (motivo do apelido), bebendo uma dose de "alegria", depois, abrindo seu vasto sorriso, me dizendo:

- Essa é por sua conta, meu irmãozinho! E as próximas também... E me abraçava, feliz! O Tiziu estava sempre feliz. Só quando, por solidariedade ao amigo, ficou triste comigo por uns minutos não o vi feliz.

Saudade, meu amigo. Você nem imagina quanta...


Meu amigo Tiziu







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25 de abril de 2020

BORBOLETAS, BANANAIS E CRISE EM MACONDO

BORBOLETAS, BANANAIS E CRISE EM MACONDO
Psicografado por mim (José Sérgio Rocha)
na Pátria Amada Brasil
Em meio à praga que vem devastando os nossos bananais e matando centenas de borboletas amarelas, vermelhas, azuis, enfim, um verdadeiro borboleticído que ocorre diariamente, o Jefe da Puliça de Macondo pediu demissão depois que um de seus homens de confiança foi exonerado por uma bala perdida publicada no Diário Oficial da localidade..
Os peritos conferiram que o projétil exoneratório não saiu da garrucha da mais alta autoridade pulicial da aldeia, mas é absurdamente compatível com os trabucos e respectivos calibres da família Buendía.
O perito Encarregado (este é seu nome) até pediu para falar off the record, por temer represálias. Contou que a bala vinha de um modelo Bic, justamente o preferido do alcaide Jair Buendía, que tem uma garrucha em seu nome e um verdadeiro arsenal sublocado.
Don Jair é o jefe do clã mais alienado e rancoroso de Latinoamérica e as horas mais difíceis de sua vida coincidem com os angustiados momentos gramaticais e ortográficos em que precisa sacar a Bic para manifestar-se por escrito. Foi o que nos contou também Don Encarregado.
Descendente de numerosos Aurelianos e Arcádios, o Alcaide atual sempre foi meio anarquista, como o pai, os tios e avós, porém mais fascinado por sua garrucha declaratória e pela carabina Winchester "Papo Amarelo" do que pelas borboletas da mesma cor que enfeitam os jardins da cidade.
A fantasia sexycriminal causada pela Papo Amarelo e também pelo Colt Cavalinho e pela Mauser Parabellum foi transmitida por Don Jair a sus hijos Don Rachadito, Don Fakenikito e Don Pinguelito ou - como murmuram os borrachos de Macondo -- Huguito, Zezito e Luizito.
O resultado deste envolvimento familiar excessivo na condução dos assuntos locais tem sido horroroso. O gobierno de su papá foi, desde o início, sacudido por badernas que os três santinhos atribuíam ao clã dos Rojos. Os rojos não são más pessoas, porém assim são considerados pelos rivais.
Na última eleição, os rojos perderam por pouco. Eram muito bons de gobiernar (ficaram 13 anos no gobierno) e de hacer campanha, só que havia um número superior de borboletas amarelas, que partiam em revoadas a cada chamado de Don Jair. Em retribuição, após a vitória nas urnas, Buendía nomeou Jefe de Puliça o ídolo dos amarillos, o juiz Don Marreco.
As brigas e traições não tardaram. Don Marreco sempre foi um juiz mexeriqueiro e boquirroto. Esta última característica, porém, sempre foi prejudicada por sua voz fina e esganiçada. Porém, em meio àquelas borboletinhas amarelas, certo dia vislumbrou uma mosca azul e viu nela um futuro radioso para sua marrequice.
Para fazer acontecer tal futuro, Don Marreco só precisava exercer seu cargo em silêncio obsequioso, porém dando a impressão de dignidade. Era como vinha obrando hasta el momiento em que começaram a transbordar fofocas sobre o método de ganhar dinheiro de Don Rachadito, a disseminação de inverdades pelos robôs criados por Don Fakenikito (o escândalo das falsas borboletas amarelas) e pelas suspeitas de que Don Pinguelito e sus milicianos del Escritório del Amor organizava manifestações contra uma das fundadoras de Macondo, la Señora Democrácia.
Dona Democrácia e os primeiros Buendía fundaram o arraial. Os Buendía de antigamente não eram más pessoas, embora no tempo deles muitos morressem com a boca cheia de formigas. Por isso, eram venerados, principalmente Dona Democrácia, que continua viva e morando em local incerto e insabido.
O assessor defenestrado pela Bic do Alcaide com manias de Ditador caiu do caballo justamente porque andou investigando os hijos de Don Jair. Assim que soube que o clã ficaria em apuros, o Alcaide mandou o Jefe Supremo parar com aquela palhaçada. O Jefe Supremo sustou o processo, porém Don Marreco também o procurou, pois jamais chegaria ao poder, algum dia, se fosse flagrado como o principal responsável por mais um golpito de estado.
Foi então que o Alcaide o mandou embora. Depois de convencido pelos militares de seu gabinete a voltar atrás, fingiu que não tinha mandado embora. Fez que ia, mas não foi fondo. E o drama se encerrou até el Pronunciamiento que comienza a las cinco de la tarde.
José Sérgio Rocha

Biografia do autor: Zé Sergio, além de ser um grande jornalista, tem três outras grandes virtudes: é meu amigo, é botafoguense de raiz, e é o sujeito mais fino e desbocado, quer dizer, educado, que já conheci.

BORBOLETAS, BANANAIS E CRISE EM MACONDO

27 de janeiro de 2020

Abraçando um desconhecido

Às vezes acontecem umas coisas estranhas comigo. Há cerca de 2 meses atrás, estava num ponto de ônibus quando um garoto autista segurou minha mão e só a soltou quando sua mãe o puxou para subirem no ônibus em que iam seguir viagem.
Agorinha fui na farmácia aqui perto de casa. Fui comprar aparelho de barba, seus fofoqueiros!
Quando estou voltando, um sujeito- por volta de 50 anos, cerca de 1,70 metros barba grisalha bem feita, banho tomado, roupas de boa qualidade- me para e pergunta assim do nada:
- Eu vou ficar bom?!
Olhei pra ele, me refiz do susto, e respondi:
- Vai, claro que vai!
- Tem certeza?- indaga ele.
-Tenho! Certeza absoluta!
Ele abriu um sorriso e disse:
- Meu nome é Marcelo, e o seu?
- O meu é Zé Antonio!
- Você me dá um abraço, Zé Antonio?
- Dou, claro que dou!
Nos abraçamos e o Marcelo se foi...
Cheguei em casa com lágrimas nos olhos. Umas de alegria, outras de tristeza pela solidão em que o Marcelo provavelmente deve viver.

Obs: O fato acima narrado aconteceu em 27/01/2020
Abraçando um desconhecido  Às vezes acontecem umas coisas estranhas comigo. Há cerca de 2 meses atrás, estava num ponto de ônibus quando um garoto autista segurou minha mão e só a soltou quando sua mãe o puxou para subirem no ônibus em que iam seguir viagem. Agorinha fui na farmácia aqui perto de casa. Fui comprar aparelho de barba, seus fofoqueiros! Quando estou voltando, um sujeito- por volta de 50 anos, cerca de 1,70 metros barba grisalha bem feita, banho tomado, roupas de boa qualidade- me para e pergunta assim do nada:  - Eu vou ficar bom?!  Olhei pra ele, me refiz do susto, e respondi:  - Vai, claro que vai!  - Tem certeza?- indaga ele.  -Tenho! Certeza absoluta!  Ele abriu um sorriso e disse:  - Meu nome é Marcelo, e o seu?  - O meu é Zé Antonio!  - Você me dá um abraço, Zé Antonio?  - Dou, claro que dou!  Nos abraçamos e o Marcelo se foi...  Cheguei em casa com lágrimas nos olhos. Umas de alegria, outras de tristeza pela solidão em que o Marcelo provavelmente deve viver.



5 de dezembro de 2019

O menino autista que me "adotou" como amigo

Fui fazer um eletro de meu genial, porém humildoso, cérebro a pedido de meu neurologista.
Quando saí da clínica, que fica perto aqui de casa, resolvi vir de ônibus e não andando. Chove há uma semana em Brasília e o céu tá carregado de nuvens negras.
Estou em pé no ponto de ônibus, quando alguém pega carinhosamente minha mão direita (ainda bem, se fosse a esquerda, com certeza seria um comunista desalmado e desavergonhado querendo me desvirtuar do caminho do bem). Quando olho, vejo que foi um garoto com cerca de 10 anos quem pegou na minha mão. Segurava delicadamente minha mão e me olhava fixamente. Autista, o jovem. Sua mãe, quando viu o que acontecia, puxou a mão do menino e, um tanto quanto envergonhada, me pediu desculpa. Não tem problema- disse a ela- deixa ele segurar minha mão. Ela me olhou agradecida e ali fiquei uns 5 minutos segurando a mão do garoto, que continuou me olhando fixamente. O ônibus deles veio e se foram. Nem uma palavra disse o menino. Suspeito que todo o amor dele estava acumulado na mão que me estendeu. Por que eu? Não sei... Talvez tenha se identificado comigo. E eu o agradeço pelo gesto de amor. Obrigado, muito obrigado.
❤️❤️❤️❤️❤️❤️   

Fui fazer um eletro de meu genial, porém humildoso, cérebro a pedido de meu neurologista. Quando saí da clínica, que fica perto aqui de casa, resolvi vir de ônibus e não andando. Chove há uma semana em Brasília e o céu tá carregado de nuvens negras. Estou em pé no ponto de ônibus, quando alguém pega carinhosamente minha mão direita (ainda bem, se fosse a esquerda, com certeza seria um comunista desalmado e desavergonhado querendo me desvirtuar do caminho do bem). Quando olho, vejo que foi um garoto com cerca de 10 anos quem pegou na minha mão. Segurava delicadamente minha mão e me olhava fixamente. Autista, o jovem. Sua mãe, quando viu, puxou a mão do menino e, um tanto quanto envergonhada, me pediu desculpa. Não tem problema- disse a ela- deixa ele segurar minha mão. Ela me olhou agradecida e ali fiquei uns 5 minutos segurando a mão do garoto, que continuou me olhando fixamente. O ônibus deles veio e se foram. Nem uma palavra disse o menino. Suspeito que todo o amor dele estava acumulado na mão que me estendeu. Por que eu? Não sei... Talvez tenha se identificado comigo. E eu o agradeço pelo gesto de amor. Obrigado, muito obrigado. ❤️❤️❤️❤️❤️❤️

1 de julho de 2019

O avô do Gabriel morreu

O avô do Gabriel morreu
Zatonio Lahud

Estava fazendo uns alongamentos na Praia das Castanheiras ( Guarapari), após dar minha caminhada (ficar antigo é inevitável, ficar "empenado" é opção) quando chega uma moça (uns 30 anos) com seu casal de filhos. Gabriel, 8 anos, e Ana, 4 anos.
Gabriel pegou a bola que trazia e pediu à mãe pra chutar pra ele na baliza que estava perto onde eu fazia meus exercícios.
Não deu muito certo a tentativa do Gabriel. A mãe não tinha nenhum jeito para jogadora de futebol e a irmã se metia no meio da brincadeira.
Meio desolado, Gabriel, muito simpático, vira-se pra mim e diz:
- Quer brincar comigo? Você chuta e eu fico no gol!
- Tá bom!- disse eu.
E comecei a chutar para as defesas do Gabriel. A mãe foi brincar com a Ana na beira d´água.
O menino ficou radiante ao perceber que eu sabia chutar e pulava sem medo nas bolas por mim chutadas. Leva jeito, o Gabriel.
Após brincar por uma meia-hora, a mãe veio chamar o filho. Estava na hora de ir embora.
Antes, virou pra mim e disse:
- Obrigado por ter brincado com o Gabriel! Quem fazia isso com ele era o avô, meu pai, que morreu em um acidente de carro têm 3 meses. Ele sente muita falta do avô!- completou a mãe, com lágrimas nos olhos.
- Quantos anos seu pai tinha?- perguntei.
- Sessenta e dois!- respondeu a mãe.
- Da minha idade... Meus sentimentos- disse a ela.
Gabriel veio, me deu um abraço e foram embora.
Eu, lembrando de quando fazia o mesmo com meu filho (que era outro metido a goleiro) na Praia de Icaraí, em Niterói, também peguei o caminho de casa. Com os olhos úmidos. Pela perda do Gabriel e por saudade de meu filho. 

O avô do Gabriel morreu  Zatonio Lahud    Estava fazendo uns alongamentos na Praia das Castanheiras ( Guarapari), após dar minha caminhada (ficar antigo é inevitável, ficar "empenado" é opção) quando chega uma moça (uns 30 anos) com seu casal de filhos. Gabriel, 8 anos, e Ana, 4 anos. Gabriel pegou a bola que trazia e pediu à mãe pra chutar pra ele na baliza que estava perto onde eu fazia meus exercícios. Não deu muito certo a tentativa do Gabriel. A mãe não tinha nenhum jeito para jogadora de futebol e a irmã se metia no meio da brincadeira. Meio desolado, Gabriel, muito simpático, vira-se pra mim e diz: - Quer brincar comigo? Você chuta e eu fico no gol! - Tá bom!- disse eu. E comecei a chutar para as defesas do Gabriel. A mãe foi brincar com a Ana na beira d´água. O menino ficou radiante ao perceber que eu sabia chutar e pulava sem medo nas bolas por mim chutadas. Leva jeito, o Gabriel. Após brincar por uma meia-hora, a mãe veio chamar o filho. Estava na hora de ir embora. Antes, virou pra mim e disse: - Obrigado por ter brincado com o Gabriel! Quem fazia isso com ele era o avô, meu pai, que morreu em um acidente de carro têm 3 meses. Ele sente muita falta do avô!- completou a mãe, com lágrimas nos olhos. - Quantos anos seu pai tinha?- perguntei. - Sessenta e dois!- respondeu a mãe. - Da minha idade... Meus sentimentos- disse a ela. Gabriel veio, me deu um abraço e foram embora. Eu, lembrando de quando fazia o mesmo com meu filho (que também era goleiro) na Praia de Icaraí, em Niterói, também peguei o caminho de casa. Com os olhos úmidos. Pela perda do Gabriel e por saudade de meu filho.

7 de agosto de 2018

"Vamos lanchar com ele"

Sábado retrasado recebi a visita de dois velhos e queridos amigos de São José do Calçado. Vieram de Vitória me dar as boas-vindas por ter me mudado para Guarapari.
Um deles, o Ferrugem, é o patrono de nossa turma de farras. Por ser o mais velho e o menos ajuizado nos tempos de esbórnia ampla, geral e irrestrita era o nosso guru.
O outro é o Calinha, meu primo e um dos mais novos da galera. Um sujeito "bão", o Calinha, mas com um defeito genético gravíssimo. É o mais chato e pela saco dentre os bilhões de pacatos e ordeiros torcedores do Invencível Mengão! Chato pra caralho!
Antes de virem ocorreu um pequeno impasse: o Ferrugem ligou três vezes pro Calinha querendo saber a hora que iam sair de Vitória. Coisa de terceiro-idosinho que parou de beber. Como eu também parei de beber faz tempo, o Calinha indagou ao Ferrugem: 
- Mas nós vamos fazer o que lá em Guarapari? Você e o Toinha não bebem mais...
O Ferrugem pensou por uns segundos e respondeu: 
-Ué, nós vamos lá lanchar com ele!
E assim foi feito, vieram, lanchamos, contamos diversos "causos" e matamos saudade. Anos atrás esse lanche iria varar madrugada adentro e só ia acabar após o amanhecer do dia.
Este foi o principal motivo que me fez vir morar em Guarapari: ficar próximo de meus bons e queridos amigos de toda a vida! E só lanchando com eles.
 
Blog do Barão- Eu com amigos
Ferrugem, eu e o Calinha



10 de julho de 2017

Perdi um companheiro

Perdi um companheiro. Um homem humilde e sofrido. Devastado pelo alcoolismo e pelas drogas. Magrinho, humilde, bom coração, sempre com um sorriso  no rosto. Apesar das mais de 80 internações nunca desistiu de lutar. 
Recaía, mas nunca desistiu da luta. Voltava... recaía... voltava... recaía... voltava... 
A alegria, apesar do sofrimento, preservada.
Robertinho, que agora, meu sofrido amigo, você encontre a paz que nunca teve em vida.
Jamais esquecerei o maior exemplo que você deixou: o de não desistir nunca...
Estou triste.

Perdi um companheiro

28 de fevereiro de 2017

Se ainda houver caminho no fim do túnel

Muitos se perderam pelo caminho dos sonhos. Eu fui um deles. Do  caminho que sonhamos juntos, nada sobrou, a não ser a dor de ver sonhos virarem pesadelos. Do mundo fraterno que sonhamos juntos, ao mundo fratricida que vivemos hoje. O mundo do eu, do egoísmo extremado, do vencer a qualquer custo, como se vencer fosse só acumular dinheiro, carros, imóveis... 
Me perdi pelo caminho do sonho da liberdade infinita. Perdi-me em noites vazias de amores fúteis regadas a álcool. Perdi-me  tanto, que me perdi de mim, errei o caminho da volta. Caí em buracos repletos de dores profundas. Acabei só, perdido no breu do longo túnel da solidão. E, na escuridão do túnel, no desespero da desesperança, uma mão, suave e carinhosa, pousou em meus ombros, me apontou um novo caminho, e disse: "Caminhe por ali..."
E desde então, um dia de cada vez, vou seguindo o caminho da esperança, da compaixão pelo outro que sofre, da generosidade justa. Da paz de espírito.
Hoje, quando tropeço, olho pra cima e pra frente. O inferno, o meu inferno, vai ficando, dia após dia, mais distante...

4 de fevereiro de 2017

Sobre Don Quixote e valores civilizatórios- Teotônio Simões

Honra, decência, honestidade, empenho e respeito à palavra dada e, acima de tudo sobretudo, fidelidade aos próprios sonhos, respeito a si mesmo. 


Valores que não deveriam ser, e não são, de esquerda ou de direita, mas civilizatórios. Todos valores que encontramos no D. Quixote e, aqui e ali, ainda nos que persistem, em uma época em que se diz que “o sonho acabou”. Pior, digo eu: “transformou-se em pesadelo”.


Que consigamos sair do pesadelo, e não pela morte, para que, ao se comemorar os quinhentos anos do Quixote, alguém possa escrever: “o sonho voltou e com ele a aventura e a ventura humanas. E o sonho é belo, porque agora é a realidade!”
Teotônio Simões
Don Quixote
(Em comemoração de seu quinto centenário)


Honra, decência, honestidade, empenho e respeito à palavra dada e, acima de tudo sobretudo, fidelidade aos próprios sonhos, respeito a si mesmo.    Valores que não deveriam ser, e não são, de esquerda ou de direita, mas civilizatórios. Todos valores que encontramos no D. Quixote e, aqui e ali, ainda nos que persistem, em uma época em que se diz que “o sonho acabou”. Pior, digo eu: “transformou-se em pesadelo”.   Que consigamos sair do pesadelo, e não pela morte, para que, ao se comemorar os quinhentos anos do Quixote, alguém possa escrever: “o sonho voltou e com ele a aventura e a ventura humanas. E o sonho é belo, porque agora é a realidade!” Teotônio Simões Don Quixote (Em comemoração de seu quinto centenário)


19 de dezembro de 2016

Tonicão, meu pai

Tonicão, meu api
Tonicão em foto de 1958
Tonicão, meu pai
Zatonio Lahud

Dia dos Pais, minha mãe avisa a mim e meus irmãos que o pai viria mais cedo para jantarmos juntos em um restaurante. Era uma sexta-feira (no domingo os restaurantes ficam lotados), estranhei a notícia pois meu pai não era dado a comemorações do gênero, Achava puro comércio, comerciante que era.
Marcou para 20 horas.
Antonio Lahud, era seu nome de batismo, Tonicão para todos. Pesava cerca de 110 kg- quando magro, o normal era por volta de 120 kg, distribuídos com fartura por cerca de 1,83 m de altura.

Todo mundo pronto, esperando sua chegada e nada do velho aparecer. Deu nove horas, dez, onze, meia-noite e nada... nem sombra do pai.
- Sabia- diz a mãe, hoje é sexta-feira, deve estar bebendo com os amigos e esqueceu da gente, vou preparar alguma coisa para vocês comerem. Quando ele chegar vai se ver comigo, deixa ele!- exclamou e saiu furibunda, rumo à cozinha.

Todos de cara feia, com fome, sexta-feira perdida, quando entra o pai- já meio alto, uma sacola em umas das mãos, na outra um pequeno embrulho.
- Poxa, pai!- digo- começando a reclamar.
- Ninguém fala nada, eu explico, mas antes peguem uma cerveja para mim. Minha irmã foi lá, pegou a cerveja, o serviu e sentamos para ouvir a explicação:
- Demorei por causa disso aqui- disse- colocando o pequeno embrulho por sobre a mesa.Ganhei de presente dos meninos lá do posto- completou, já chorando.

O presente era uma carteira de dinheiro, daquelas feita em plástico barato, e ornada com o escudo do Flamengo. Os meninos eram dois garotinhos negros e muito pobres, que ficavam calibrando pneus no posto. Eram simpáticos e meu pai logo se tomou de amores pelos dois. Passou a dar almoço, comprou camisa do Flamengo, acompanhar os estudos... Essas coisas de pai.
- Mas por que está chorando?- indaguei.

- Vocês não vão entender! Quando estava saindo do posto, os meninos vieram e me deram a carteira de presente pelo dia dos pais. Compraram com o dinheirinho que ganham lá, calibrando pneus- disse ele, aos prantos.

- E aí?- perguntei.

- Me deram um abraço, um beijo e não aguentei! Comecei a chorar, botei os dois no carro e levei-os para jantar em um restaurante. Nunca tinham ido em um na vida deles! Comeram à vontade, tomaram sorvete, uma farra danada! Por fim, comprei seis galetos para cada um levar pra casa e comprei mais seis pra vocês: tão aí nessa sacola! Foi isso que aconteceu, agora podem zangar- terminou, lágrimas escorrendo por seu rosto.

Como que combinados, levantamos os três, eu, meu irmão e minha irmã e fomos dar um abraço no velho- todos com lágrimas nos olhos.

As lágrimas que escorrem em meu rosto agora não são só de tristeza e saudade por sua ausência, não pai, são antes lágrimas de alegria e orgulho por ter sido você o meu pai.

Saudade.


PS: Hoje, 19/12/2016, completam-se 25 anos da morte de meu pai.



                                                                                 

                                                                         



3 de dezembro de 2016

Obrigado, Colômbia!

Um povo vítima da violência insana dos cartéis que controlam o tráfico de cocaína, da luta de décadas do exército do país contra a guerrilha mais antiga do continente, não perdeu a capacidade de amar e ser solidário com uma tragédia. O povo da Colômbia, mesmo machucado e sofrido com toda essa violência, mostrou ao mundo uma grandeza d'alma, uma delicadeza, uma solidariedade, uma ternura nunca vistas ao lidar com as vítimas (principalmente os familiares delas e o povo brasileiro em geral) do acidente que vitimou a delegação da equipe da Chapecoense, que se dirigia a Medellín para a partida de ida da decisão da Copa Sul-Americana contra a equipe local do Atlético Nacional.

Em época de tanto egoísmo e narcisismo, que o exemplo de desprendimento, compaixão e amor ao próximo dado pelos colombianos, sirvam de exemplo para os brasileiros e , por que não?, para a humanidade em geral.
Obrigado, Colômbia!

 Obrigado, povo da Colômbia


29 de novembro de 2016

A tragédia da Chapecoense nos lembra o quão frágeis somos

 Nascemos com um Norte traçado: a morte. O triste acidente de avião que se abateu sobre a equipe de futebol da Chapecoense, que estava no momento mais glorioso de sua história, vem nos lembrar o quão somos frágeis, finitos e impotentes.
Em tempos de tantas estúpidas certezas,  arrogância, preconceitos, ódios, xenofobia e violência insana, uma imensa tragédia vem nos fazer um pouco mais humanos e solidários com nossos semelhantes.
Pena que isso durará o tempo das vítimas serem enterradas. Logo após, a comoção vai ficar no passado e voltaremos a nos digladiar na busca feroz por poder, dinheiro, bens materiais. Coisas que dão a ilusão de eternidade aos seus detentores.
Eu, um dia, quando tomei ciência da minha finitude, escolhi viver com ternura (para mim a mais bela das palavras), olhando o mundo apenas como um passageiro temporário.  Ao fazer isso, descobri que sou eterno, quando terno.
Todo dia, ao acordar, peço ao espírito do Universo que habita em mim uma única coisa: mantenha-me simples.

A tragédia da Chapecoense nos lembra o quão frágeis somos

28 de novembro de 2016

Nunca tive medo de estar só

Não preciso de ninguém que me complete. Sou completo em excesso, de qualidades e defeitos. E convivo muito bem com isso.
Preciso de alguém que me eleve e me seja leve. Não gosto de carregar peso. Se gostasse faria halterofilismo.
E nunca tive medo de estar só. Morro de medo é de estar acompanhado, mal... De má companhia chega-me a minha- que, por vezes, é péssima; outras tantas, basto-me, eu e meus múltiplos eu.

Nunca tive medo de estar só



18 de novembro de 2016

A chuva que lava a alma

Uma chuvarada me pegou no meio da rua. Que delícia sentir a água caindo em meu corpo, o friozinho no rosto, a alma lavada...
Lembrei de minha infância em São José do Calçado. A chuva ameaçava cair, e a molecada logo corria parar jogar bola no campo do Americano, que ficava encharcado quando chovia.
Momentos assim, simples, são os melhores da vida.


Uma chuvarada me pegou no meio da rua. Que delícia sentir a água caindo em meu corpo, o friozinho no rosto, a alma lavada... Lembrei de minha infância em São José do Calçado, quando a molecada ia jogar bola no campo do Americano, que ficava encharcado quando chovia. Momentos assim, simples, são os melhores da vida.

29 de setembro de 2016

Maldita política nacional- Saint-Clair Mello


Tenho remoído bem lá no fundo do meu sentimento um horror pela política nacional. Não tanto pelos inúmeros e variados casos de denúncia de corrupção dos mais diversos matizes políticos e ideológicos, mas sobretudo pela devastação que o maniqueísmo a que foi lançada a sociedade brasileira – como se houvesse alguém que merecesse nossa solidariedade cega –, está causando entre nós, colocando velhos companheiros em campos opostos.
Nós, os eleitores e contribuintes aqui embaixo, nos engalfinhamos, nos ofendemos, perdemos amizades construídas há dezenas de anos, solidificadas que foram no respeito e na camaradagem, nós aqui embaixo, repito, os sonhadores de sempre que almejam por uma ética inquebrantável, deixamos esgarçar os laços de amizade em nome de uma classe política que está pronta a fazer as alianças mais estranhas e espúrias, pela cobiça do poder.
Não há na política nacional nenhum político inocente. Todos eles, salvo raríssimas exceções entre os mais extremistas, estão dispostos a todo tipo de acerto, de acordo, de conluio. Eu e meu amigo, no entanto, nos estranhamos, esquecemos a amizade profunda que nos une – ou nos uniu até agora – porque queremos que a classe política reflita o que somos. E mesmo nós não somos santos, nem castos. Somos éticos certamente, pois não compactuamos com pessoas sem ética, mas a política tem uma ética extremamente relativa.
E, por causa desta política conspurcada, torpe, gananciosa, perco amigos queridos.
Até então nenhum de meus amigos – e os tenho e tive de todos os matizes ideológicos, políticos, religiosos, sexuais – deixou afrouxar os laços que nos uniam, malgrados os governos que se sucederam no país. Contudo, nesses últimos anos, fomos levados a acirrar as dissensões, como se as ideias tivessem a castidade como norma.
Pois não há religião, ideologia, filosofia ou cachaça de alambique, como já disse alhures, que esteja isenta de erros. Todas são criações do espírito humano, portanto passíveis de erros e falhas.
A amizade que se construiu sobre a verdade de sentimentos não pode sucumbir a uma ideologia, a uma política que, daqui a cinquenta ou cem anos, estará caduca, pelo surgimento de outras tantas, passíveis dos mesmos erros destas que aí estão, porque todas são produtos de nós mesmos, falíveis humanos.
Mas o valor milenar da amizade tem sucumbido à verdade precária destes tempos maniqueístas, como se qualquer dessas personagens que abundam a política nacional merecesse isto.
Maldita política nacional!
Saint-Clair Mello

Quem quiser conhecer a obra do Siant-Clair vá no seu blog Gritos&Bochichos

Maldita política nacional- Saint-Clair Mello

15 de agosto de 2016

O Rio renasceu com os Jogos Olimpícos

Chega de só falar mal do Rio! A cidade renasceu com a realização das Olimpíadas, essa é a verdade.
O centro histórico da cidade (e do Brasil!) foi recuperado, o povo carioca está feliz, os turistas estão felizes... A Cidade Maravilhosa  novamente.
Fiquei comovido ao ver milhares de pessoas passeando pelo centro do Rio no sábado passado.
Uma alegria simples, sincera, comovente até... O Rio resgatou seu espírito nesses "dias olímpicos". Alegria, ironia, simpatia, irreverência, solidariedade, gozação saudável: esse é o espírito do carioca, que devido às mazelas da cidade andava escondido em alguma esquina boêmia da Lapa, e deixou seu esconderijo para mostrar ao Brasil e ao mundo com se faz uma linda festa!
Chega de tantas lamúrias... O Brasil precisa voltar a ser alegre; tristeza e ódio não resolverão nossos gravíssimos problemas econômicos e sociais.
O Rio brilha novamente, é é isso que importa no momento. Lembrando uma música do carioquíssimo Paulinho da Viola, uma das figuras mais doces que conheço: Meu tempo é hoje!
O Rio é maior que a violência, o ódio e o mau-humor dos chatos de sempre.
Obrigado, Cidade Maravilhosa, por tanta generosidade e alegria!

O Rio renasceu com os Jogos Olimpícos