Uma criança (mais uma) de 2 anos morreu ontem (21/01) no Rio. Uma bala perdida a achou enquanto brincava no espaço infantil de uma lanchonete em Irajá. Viver no Brasil de hoje é ter uma sentença de morte pairando sobre nossas cabeças. Criamos a pena de morte para inocentes. A trágica notícia está em O Globo
Certa feita, eu tinha por volta de dez anos, em um dia de Natal fui mostrar o presente que havia ganho de Papai Noel aos meus amigos que brincavam na praça de minha querida São José do Calçado. Uns dois ou três deles não foram agraciados pelo elitista Noel por serem pobres- só mais tarde me dei conta disso . Sem entender bem o motivo de meus amigos estarem de mãos vazias fui até à Casa Libaneza, "venda" de meu pai, que era defronte à praça, peguei uns brinquedos e os distribui entre os "sem-presentes". A venda estava fechada e meu bebia com seus amigos no Bar do Tião Cabrito, que ficava ao lado, e logo soube de minha "arte". Me chamou e disse: "Você fez muito bem, foi um belo gesto, mas devia ter me avisado". Com lágrimas nos olhos, me deu um beijo e me mandou de volta aos meus amigos. Foi um bom homem o meu pai. Saudade.
Papai Noel,
me perdoe o desabafo, mas há muitos anos venho querendo escrever essa carta. Tantos que hoje escrevemos e-mails no lugar de cartas. Enviei para o seu, espero que entenda o que vou dizer.
Eu fui um garoto muito pobre, Papai Noel. Muito mesmo! E você nunca passou no casebre em que eu morava com meus pais e irmãos para deixar um presente no Natal. Via outros garotos com um monte deles e eu e meus irmãos sem nada. E meus amiguinhos de miséria também. Por quê, Noel, pode me explicar? Eu não entendia... Hoje sei os motivos, mas continuo sem entender.
Logo na suposta data de nascimento de Jesus Cristo, que viveu na pobreza e pregava a humildade, a bondade, a caridade, o amor ao próximo, por quê?! Eu chorava de tristeza! Tinha muita vontade de ganhar uma bola de couro para jogar futebol com meus amigos, mas o senhor sempre nos ignorou. Hoje posso comprar. Estudei como um louco, passei muitas privações, mas venci. Este ano, e desde que posso, comprei várias bolas, Papai Noel.
Ontem mesmo, passei em um bairro pobre e vi várias crianças (entre oito e dez anos) jogando uma pelada com uma bola toda remendada. Parei o carro, peguei uma das bolas e dei para as crianças. Foi uma linda e emocionante algazarra... Uns me abraçaram, outros me beijaram...
Quando eu ia saindo, olhos umedecidos, uma delas me perguntou: - Quem é você?!
- Sou Papai Noel- respondi.
- Não é nada, você não tem barba!?- exclamou.
- Mas tenho coração!
Dei-lhe mais um abraço, um beijo e fui-me.
Feliz Natal, Papai Noel!
E fique com o abraço de um homem que não deixou a criança morrer em seu coração, apesar de nunca ter ganho um presente de Natal.
Um
dos meus vizinhos é torcedor fanático do Flor, assim como seu filho
de 6 anos.
Faz pouco a mãe ameaçou o moleque, que tava fazendo
a maior pirraça por não querer lanchar: -“Erick, se você não
lanchar vou chamar o Ribamar do Botafogo!”
O moleque parou a
manha na hora e foi comer.
Acordei hoje e tomei conhecimento da morte de Armando Nogueira, o melhor cronista esportivo que esse país já produziu, além de ser um grande torcedor do Botafogo. Creio que Armando Nogueira está para a crônica esportiva no mesmo patamar que está Rubem Braga para a crônica em geral.
Me mudei para Niterói em 1968 e logo aprendi a ler o velho e bom Jornal do Brasil, em cujas páginas de esportes imperavam grandes jornalistas, por mera "coincidência" todos torcedores do Botafogo: João Saldanha, Sandro Moreira, Oldemário Touguinhó, Roberto Porto e o Armando. E para completar a seleção alvinegra: Paulo Mendes Campos no caderno B. Não sei o por quê, mas todo botafoguense que conheço é inteligente, se não vejamos: os que já citei, Augusto Frederico Schmidt, Fernando Sabino, Vinícius de Moraes, Arthur Dapieve, Arnaldo Bloch, Walter Moreira Salles, meu mestre Saint- Clair, meu amigo Pax e vários outros.
Muito do que foram Garrincha, Pelé, Didi, Gérson, Tostão, Zito, Nilton Santos e outros, se deve ao Armando, que transformava um drible de Mané ou um gol de Pelé, numa obra literária nas páginas do JB. Futebol era sonho: "via" os jogos pelo rádio e sonhava com meus heróis nas crônicas do Armando. Na mente do garoto do interior eram seres especiais e inatingíveis. Como era bom sonhar como o Armando me fazia. Até que a realidade entrou e mostrou Garrincha- A Alegria do Povo( nada mais belo!) desfilando como um farrapo humano em um carro alegórico da Mangueira; de ir às lágrimas ao ver Nilton Santos- santo alvinegro, um velhinho frágil e dependente como vi outro dia. A realidade, amigos, não é só dura, é - antes- triste...muito triste!
Obrigado, Armando, por ter-me feito sonhar sonhos tão belos. Através de ti, driblei como Garrincha; fiz lançamentos como Gérson e Didi; tive a categoria de Nilton Santos; a velocidade de Jairzinho; o chute potente de Quarentinha. E quantas vezes, Armando, chorei contigo, sem você o saber, as derrotas de nosso atrapalhado e querido Botafogo. Se existe céu e se existem anjos, Armando, você certamente já é um deles. Quem faz uma criança sonhar sonhos tão lindos só pode ser um anjo. Alvinegro, é claro!
Saudade.
O que sei sobre a mente
É que nada mais mente
Como a mente
Mente a mente desavergonhadamente
Ideologicamente mente a radical mente
Mentirosamente mente a demente mente
Até verdadeiramente mente a mente da gente
Somente não mente a mente ainda decente de uma criança
O homem mente
A mulher mente
A vida mente
Até sermos eternamente morte
Que não mente...
Novembro é o mês perfeito para quem, como eu, mora numa cidade litorânea. Pelo menos, pra mim é. As praias não estão cheias de turistas ensandecidos, o trânsito ainda flui, o clima é ameno e o sol ainda não tem a "responsabilidade" de fornecer o troféu que alguns branquelos feito eu, teimam em levar pra casa.
Numa dessas tardes primaveris, usando o cenário perfeito como desculpa, me levo pra passear e ter uma daquelas boas conversas comigo mesma. Sento na areia, ventinho no rosto, ouço "Minha Menina Bonita" chegando de um quiosque ao lado e...
-Oi, tudo bem?!
Coloco de novo os pés no chão e tento perceber quem está falando comigo. É uma menina. Rostinho miúdo, franjinha, uma graça!
-Oi, respondi sem saber muito bem o que falar, e ela, nem um pouco intimidada, continuou:
-Você tá sozinha aqui, não tem medo?
-Não, moro aqui perto, e você? Tá sozinha? Não tem medo?
-Tô com a minha mãe (aponta para a mãe dela que está há alguns metros de onde estamos)
-Ahhh...
-Mas eu não tenho medo de nada, sabia? Quer dizer, só do que corre mais do que eu.
Ah, é?!
-É, por exemplo, eu não tenho medo de sapo, de minhoca, de joaninha...
-Jura? Você é mesmo muito corajosa!
...mas tenho medo de barata e de rato porque correm mais do que eu! (quando ela fala, sinto o pânico estampado no seu rostinho e me dá um dó, vontade de pegar no colo, acalentar)
De repente, a mãe dela chama:
-Clara, vamos!
-Bom, tenho que ir...minha mãe tá me chamando.
Ela se despede como se quisesse conversar mais e vai ao encontro da mãe. Nem deu tempo de lhe dizer que também tenho medo de tudo que corre mais do que eu. Que pena! Esperta que só, adoraria saber o que ela faz com seus medos... (Clara Gurgel)
Hoje é aniversário do meu filho Pedro, nove anos. Estamos organizando uma festinha pra ele. Agora há pouco recebo João, amiguinho de escola, e sua mãe no portão. Sinto a apreensão no rosto dela. João já esteve aqui em casa mas ainda assim noto que ela precisa me ver, saber se eu não correspondo ao padrão do que ela acredita que possa trazer algum risco para o seu filho.
"Pois é, disse pro João que precisava trazer ele até aqui (eu tinha me oferecido pra buscar). Perguntei pra ele se você é carioca por causa do sotaque no telefone...cê não leva a mal não mas...sabe como estão as coisas, né?!"
Fiquei pensando o quanto estamos nos tornando paranoicos, e pior, não menos desprotegidos. Talvez mais preconceituosos. Mas não me aborreci e dei razão à ela. Senti que ela queria esse respaldo. Dei. Mal sabe ela o que os cariocas fazem com as crianças...MUAHAHAHAAAAAAAAA!!!
Eu, enquanto"mãe modernosa", estudando história com o Pedro:
-Então Pedro, foi assim: Dom Pedro I "deu uma banana" para Portugal e resolveu ficar no Brasil. Entendeu, filho?
-Ah, mãe! Entendi...
"República da BANANA"
(2 ATO)
Dia da prova, pergunto para o Pedro:
-Qual foi o grito de Independência? Sabe responder, Pedro?
-Ahhh mãe, claro que sei: "BANANA"!!
-Como assim, Pedro? "Banana"?
Morri...
é lindo ver uma criança sorrindo
sorriso farto e puro
que nos dá força para viver em mundo tão duro
hoje vi uma rindo em cima de um muro
desce daí menino, vai cair!
rindo ela disse:
não, ainda não estou maduro.