Cena brasileira
Perto aqui de casa existe uma esquina com quatro lojas: uma
lanchonete, uma loteria, um botequim. A quarta é usada por um ponto de jogo do bicho.
Como sabemos, o jogo é proibido no Brasil. Mas na loja da
loteria, onde faz-se todo tipo de jogatinas bancadas pelo governo federal, o
constitucionalmente ilegal, torna-se rigorosamente legal. Na loja que faz jogo do bicho o ilegal que deveria ser ilegal, torna-se ilegalmente legal devido ao “imposto” indireto ( que alguns chamam de propina ) pago pelos bicheiros às nossas zelosas “otôridades”.
Mas, não se iludam, segundo a ótica do Poder Público, existe
o ilegal, legal e o ilegal, ilegal. Ontem à tarde vi três homens saindo da loja
onde fica o ponto de jogo de bicho. Saíram, entraram em um carro da Polícia
Civil e foram embora.
Curioso que sou, perguntei ao segurança da farmácia ( que se
localiza do outro lado da rua ) o que estava acontecendo. Resposta dele: “Ah,
os “hômi” vieram fiscalizar se tinha máquina caça-níquel no ponto de bicho, é
proibido, se tivesse eles fechavam o estabelecimento!”
Vim rindo para casa, a cada dia mais convicto que não existe
nada no mundo mais surrealista que o Brasil. Temos até o ilegal que é legal, e
o que é proibido.