O apanhador de desperdícios
Manoel de Barros
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Manoel
Wenceslau Leite de Barros ( 19/12/1916-13/11/2014 ) é um poeta brasileiro do século XX,
pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao pós-
Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas. 19 de dezembro de 1916
O poeta Manoel voou
Virou passarinho
Livre como um daqueles
Que tanto cantou.
Que voe em paz...
( Zatonio Lahud )