Ventos do Nordeste

Ventos do Nordeste

Sopram o fascismo

De volta ao esgoto

De onde

Nunca deveria ter saído

Que nenhuma estrela queime o teu perfil

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

Sophia de Mello Breyner Andresen foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.

Sophia de Mello Breyner Andresen

O vento que leva e traz

O vento 
que leva 
o amor
e traz a dor

É o mesmo
que traz
outro amor
e leva a dor

Em forma de poesia

Roubava...

Sem remorso

Todas que podia

 Depois as amava

E as soltava pelo mundo

Em forma de poesia

As palavras roubadas

O poeta.

Duas mulheres

Duas mulheres
Na vida amei

A primeira,
Perdi-a ao tempo

A segunda,
Foi-se ao vento

Eu,
Pranto ao relento.

E direi ao tempo

E direi ao tempo
que avisará ao vento
que carregará a boa nova
por todo continente e oceano:
Te amo!

Duas mulheres amei

Certa vez
Duas mulheres amei
A primeira perdeu-se no vento
A segunda evadiu-se no tempo

Sentei-me em um bar
E dois conhaques bebi
Um para cada saudade

Mas não chorei...

( 20/10/1994 ) 

Palavras o vento leva...

Palavras o vento leva...
Disseminando a beleza de um poema,
o prazer de se ler um bom romance.

Palavras o vento leva...
Para arrancar lágrimas, sorrisos, silêncios
em cada leitor.

Palavras o vento leva...
Para penetrarem em teu coração
e te avisarem que te amo.

Palavras o vento leva...
Que viva o vento,
o entregador de palavras,
tão sábio.

Que eu fique à paixão atento

eu desatento
colhi desalento
mas eis que o vento
trouxe-te até mim

Que eu fique à paixão atento

Que viva o vento!