Há algum tempo venho acompanhando uma mãe e seu filho. Todos os dias lá vem ela, mãos dadas ao rapaz, talvez 20 anos, que é portador da síndrome de Down. Acordo cedo e desço para ver os jornais e conversar fiado na porta do boteco da esquina. Não demora muito e a cena se repete: lá vem a mãe, uma mulher esguia,uns 45anos, cabelos lisos e negros, com seu filho, em sua rotina diária. O rapaz estuda numa escola para portadores de necessidades especiais na rua em que moro.
Na esquina eles param e ficam, todos os dias, conversando por cerca de 10 minutos. Não há, nesse tempo, um momento sequer que ela deixe de fazer um carinho no filho. Alisa suavemente seu rosto, abraça-o, riem,continuam a conversa, agora de mãos dadas novamente.Fico ali, olhando a cena e, todos os dias, me emociono com aquela mãe.
Hoje, ao despedir-se do filho, estava eu de pé e ela, ao virar-se para sair, notou que eu olhava a cena. Fitou-me com seus grandes olhos negros e se foi. Fiquei ali, estático, pensando no olhar daquela mulher.
Não havia no olhar daquela mãe nenhum resquício de amargura, ódio, ressentimento, tristeza; ao contrário: havia altivez, ali; não a altivez do orgulho e da prepotência, não; havia a altivez do amor, da ternura, do afeto; enfim do dever cumprido, não por obrigação, mas por grandeza. Sim, havia cansaço naqueles olhos, mas daquele cansaço que castiga o corpo e alivia a alma. O cansaço do prazer de amar por inteiro aquele filho; cansaço que não cansa, pois se torna nada diante do seu amor infinito.
Estou aqui escrevendo, mas a vontade que tenho é de dar um forte abraço naquele mãe
e dizer: obrigado, mãe, nós, pobres homens, te invejamos por tanto amor...
Além do bom humor dos demais textos, este nos comove com a observação cuidadosa que você faz da situação. Grande observador, você transcreve com sensibilidade e emoção a cena. Se eu disser aqui que minou água nos olhos, posso parecer meio frouxo. Mas é verdade.Parabéns!
ResponderExcluirMestre,
ResponderExcluirobrigado por sua generosidade alvinegra. Abração!
Além dos bom humor de seus outros textos, este mexe com nossas emoções. Grande observador da vida, você transcreve a cena com sensibilidade e beleza. Se disser que minou água nos meus olhos, poderia parecer frouxo. Mas é verdade. Parabéns!
ResponderExcluirOi José Antonio,
ResponderExcluirAdorei este.Parabéns pelo seu blog.
"O pastel na mão da mãe comido pelo menino/O pastel na mão do menino comido pela mãe/A Mãe, o menino e o pastel: uma trindade sem definição."
ResponderExcluirMuito bonito! E eu te pergunto: Pq é que a gente tem tanta vergonha ou tanto "medo" de fazer uma coisa tão simples e tão bonita quanto dar um abraço a alguém que esteja precisando de um?
ResponderExcluirVai entender o ser humano...
"...O cansaço do prazer de amar por inteiro aquele filho; cansaço que não cansa, pois se torna nada diante do seu amor infinito..." Enquanto lia o texto,ia repassando na minha mente o meu dia a dia com meus filhos. Parabéns pela sensibilidade e observação do cotidiano que nada mais é o que mihares de mães fazem, silenciosamente todos os dias pelo mundo afora. Beijo!
ResponderExcluirVocê é dono de uma grande sensibilidade, além de descrever muitissímo bem a sua narrativa. Tanto uma caracteristica, quanto a outra, auxília e satisfaz o leitor. Parabéns, é um belo texto. Grande Beijo!Ana_Accioly
ResponderExcluir"Apesar de estar te conhecendo aos poucos e só agora,já posso perceber que você é uma pessoa sensível e capacitada para captar pequenos detalhes que às vezes aos olhos de outras pessoas passam despercebidos.O texto demonstra isso.É sensível,completo e a homenagem mais carinhosa que você poderia fazer a todas as mães".Parabéns.(Rita de Cássia Torres.)
ResponderExcluir