2 de novembro de 2011

O velório do pai

Mãe e filhas choram ao lado caixão. Havia sido bom pai, bom marido e bom homem. Lágrimas merecidas.
Ana e Beth, as duas filhas, nunca se deram bem. Ana, mais intelectualizada, saiu cedo de casa e foi buscar o mundo. Seu mundo. Beth casou-se jovem e por ali mesmo construiu seu mundinho, nutria uma inveja atávica da coragem da irmã. Religiosa ao extremo um dos motivos de sua implicância com Ana era esta se declarar ateísta.
Ana derrama-se em lágrimas pela perda do querido pai quando Beth diz em alto e bom, no claro intuito de constranger à irmã:
- Por que choras tanto a morte de nosso pai, você não é ateísta?!
Ana olha firme nos olhos de Beth, respira fundo e responde, voz serena, a provocação:
- Sim, minha irmã, sou ateísta e por isto choro tanto a perda de nosso amado pai, sei que nunca mais poderei abraçá-lo, deitar em seu colo ou beijá-lo, na verdade quem não deveria estar chorando é você, afinal segundo sua crença papai deve estar no Paraíso, um lugar maravilhoso e perfeito e você vai poder se encontrar com ele quando partir; eu não. Não acha egoísmo seu estar chorando por nosso pai ter ido ser feliz?
A mãe, enérgica, manda ambas se calarem.

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