Magro, alto, nariz adunco, sua silhueta lembrava um cabrito, daí o apelido. Que odiava. Xingava em alto e bom som quem o chamasse pelo apodo.
E era o dia todo a mesma ladainha, um passava na porta do bar e dizia: "Fala Cabrito?!"
O vitupério vinha em seguida em altos brados: "Cabrito é a puta-que-te-pariu!"
No casamento da Márcia, sua única filha em um lote de cinco homens ( ou serão cabritos? ), meu pai, Tonico, que era amicíssimo do Tião e padrinho do Paulinho Cabrito ( o apelido virou sobrenome ), foi convidado pelo amigo para ser um dos padrinhos de sua filha querida.
Já morávamos em Niterói e um dia chega o Mauro do Juquita no posto de gasolina de meu pai. Portava um bilhete do padre Amando que dizia o seguinte: "Tonico, compra uma batina nova para mim no Rio. Vou usá-la para realizar o casamento da Cabritinha.. Abraço."
Tonicão, que adorava uma molecagem, guardou o bilhete. Quando chegou em Calçado para o casamento, foi direto ao bar do Cabrito, tirou o bilhete e disse ao Tião: "Aí, "cumpadre" até o padre Amando te sacaneia, chamou a Márcia de "Cabritinha" no bilhete que me mandou... E leu o conteúdo do explosivo opúsculo para todos que estavam no bar. Risadaria geral. O Cabrito trunfou a cara e assim ficou. Emburrado.
Lá pelas tantas, padre Amando, que era fumante inveterado, entra no bar para comprar cigarro. Não sabia que o Tião já tinha tomado conhecimento de seu irônico bilhete.
Quando o Cabrito viu a presença do sacerdote, vestido com sua inseparável batina preta, foi logo descarregando a raiva que estava atravessada em sua "virtuosa" garganta: "Padre Amando, o senhor também é um grande filho-da-puta!... Cabritinha é a puta-que-te-pariu!"
O bar veio abaixo! O padre deu meia volta e bateu em retirada, sem antes dizer entredentes para meu pai: "Você me paga!"
E foi assim que no casamento da "cabritinha", quem foi louvado foi o padre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário