5 de fevereiro de 2022

DESDE QUE SEJAM PRETOS- André Luiz Davila

 DESDE QUE SEJAM PRETOS

André Luiz Davila

O açoite é corretivo,
Desde que seja nos pretos!
O açoite é pedagógico,
Desde que seja nos pretos!
O açoite é legítimo,
Desde que seja nos pretos!
A bala perdida é um acidente,
Desde que atinja um preto!
O esculacho é livre,
Desde que descarregado em um preto!
A fome negra é invisível,
Porque negra é a cor dos pretos!
Os pretos são livres,
Livres para morrer como pretos!
Africanos, latinos, norte-americanos,
Pretos são sempre pretos!
O joelho do policial pode asfixiar,
Desde que esteja no pescoço de um preto!
Os capitães do mato podem caçar,
Desde que a caça seja preta!
As cadeias podem lotar,
Desde que superlotadas de pretos!
Preto aqui tem várias cores:
Preto, pobre, favelado, mulher, gay, trans...
Petrópolis, verão bárbaro de 2022.

André Luiz Davila é filósofo, poeta, professor, primo e padrinho do meu filho- mas, acima de tudo, é um grande humanista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário