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17 de novembro de 2012

Um passarinho me falou

Um passarinho me falou

Sempre tive o costume, embora um pouco negligenciado ultimamente, de ir à janela antes de dormir e ao acordar. 
Para agradecer a oportunidade de ter o privilégio de testemunhar tanta beleza.
A beleza da vida. Da criação do meu Deus das Pequenas Coisas.
Sorvo cada folha de árvore que cai, cada estrela que brilha, e encho-me da certeza de que,
se a vida de mim esvair-se, pelo menos essa não passou despercebida.
Há pouco tempo, acordei jururu. Mais um desses dias que teimam em passar em branco.
Quase automaticamente fui à janela, conectar-me com o sol, buscando inspiração para aliviar meu coração.
De repente, um pássaro pequeno, nem tão bonito assim, pousou em um telhado a minha frente.
Encarou-me como se soubesse o que eu sentia.
Encantou-me o passarinho.
Quando dei por mim, estava a conversar com a delicada criatura, chorando e esvaziando assim meu coração apertado.
Ele ouviu até o fim. 
Pulou do telhado ao fio e do fio ao telhado novamente.
Olhou pra mim e partiu.
Fiquei observando e pensando aonde iria meu confidente.
Ele voou lindo, suave e leve.
Foi então que dei-me conta que era assim também que ficara meu coração.
O pequeno amigo absorveu minha tristeza e a transformou num lindo voo.
Trouxe-me de volta a certeza de que o importante é o agora e que, "CARPE DIEM",
não é algo que serve apenas para ser tatuado no braço de alguns mais corajosos à dor.
Meus problemas ganharam nova dimensão.
Meu amiguinho, com seu lindo voo me disse:
"Não chore, menina dos olhos verdes. A vida é um presente. 
Aproveite a sua e entenda de uma vez por todas que problemas resolvem-se com sorrisos".
E sorri.


Silvia Britto                                               Primavera de 2012

                                                            

14 de novembro de 2012

Em defesa das migalhas


 Em defesa das migalhas

Por ter sempre sido uma pessoa que não tinha outra maneira de sobreviver se não fosse contentando-me com migalhas, 
criei um carinho muito especial por elas e lanço-me aqui em sua defesa. 
É certo que tudo pelo que passamos contribui para nos fortalecer e definir nosso papel no mundo. 
E é aí que entram as migalhas. Parece que não, mas elas nos fortalecem.

Há sempre um tom pejorativo em volta do termo "migalhas". 
Todos possuem uma ideia muito negativa a respeito delas. 
Mas não é bem assim.

Devemos prestar mais atenção às nossas pequenas e insignificantes conquistas do dia a dia. 
Graças a elas conseguimos caminhar e chegar aonde estamos. 
Quando se é pequeno, literalmente falando, são as pequenices da vida que nos enchem o coração de alegria. 
Quer coisa mais sublime do que ouvir uma história bem contada? Rir de uma piada boba?
Do que dar vida a uma página em branco com uma caixa de lápis de cor? 
Do que ter a profissão dos seus sonhos concretizada em uma tarde, enquanto se dá aula de Português para bonecas ou se brinca de Miss Brasil?

Mas não falo apenas de coisas concretas. 
Quero defender também as migalhas emocionais. 
O pouquinho de amor e atenção que nos deixam felizes no cotidiano e que costumamos relegar ao segundo plano.
O abraço do amigo. O "muito bem" do professor. O sorriso rápido do pseudo-paquera. O cheirinho de roupa limpa.

Fui uma criança que sobreviveu de migalhas. 
Emocionais e materiais. 
A princípio parece uma coisa triste. 
E é. Recolhia cacos. 
Passei muitos momentos de privação. 
Sentia-me triste e solitária. 
Mas é inerente ao ser humano a necessidade de sobreviver. 
E fomos dotados de pensamentos e emoções que nos ajudam nessa tarefa diária. 
Muitas vezes isso sucumbe à realidade de tocar a vida. 

Mas por que falo disso? Ah, sim, por causa das migalhas.
Não nos damos conta num primeiro momento de como migalhas são importantes. 
Apesar de com certeza já termos ouvido ou pensado o contrário. 
Quem nunca ouviu o ditado: "de grão em grão a galinha enche o papo"?
E é assim mesmo. É um pouco aqui e um pouco ali. 
E ao longo da vida, as migalhas acumuladas vão formando um "muito". 

Ter essa percepção faz com que eu agora olhe para trás e sinta um carinho especial pelas minhas pequenas grandes miudezas. 
Felizmente, embora envergonhada, tive a humildade de acolhê-las. 
Por inúmeras vezes senti-me inferior ao perceber que muitas pessoas que conviviam comigo as ignoravam por completo. 
Com certeza, pensava eu, por sentirem que delas não precisavam. 
Arrogância de gente confiante. 
E eu ali, a recolher meus caquinhos. Uma verdadeira mendiga de emoções.

Mas a vida mostrou o contrário. 
Hoje, com certa tristeza, me dou conta de que muitas daquelas pessoas possuem um saco cheio de vazio.
Já o meu, está cheio. De migalhas. De pequenices. De miudezas. 
É a minha caderneta de poupança de vida, que agora transborda de lembranças coloridas. 
São meu orgulho e a certeza de que valeu a pena recolhê-las e guardá-las com carinho.

Quer um conselho? Elas ainda abundam por aí.
(Abundam... Palavra feia, né? Mas no momento ela é mais-que-perfeita!) 
Ainda há tempo de sair recolhendo-as. 
Elas são o nosso feijão com arroz de cada dia. O que nos fortalece para irmos à luta em busca do resto do pão. 
Se há migalhas, é porque certamente haverá um pão inteiro nas proximidades. 
Elas são pistas de que algo maior nos ronda e nos preparam para abocanhá-lo. 
Portanto, procure. Fuce. Vasculhe. Garimpe. E não deixe nada passar despercebido.
Aprenda apenas a separar o que é reciclável do descartável.
Boas migalhas pra você!

Silvia Britto                 Primavera de 2011


                                              



4 de novembro de 2012

O Príncipe Sapo


O Príncipe Sapo
Silvia Britto

Essa madrugada fui acordada por um barulho que no mínimo classificaria como peculiar. 
Pareceu-me o coaxar de um sapo. 
Estranho, para o quinto andar de um prédio de apartamentos.
CROAC! De novo! 
Fiquei quieta tentando perceber de onde vinha aquele som. 
Onde estaria escondido aquele cururu?
CROAC!
Vinha lá dos lados da caminha do pequeno cão, que dormia acolhido em seu cobertor. 
Estaria o cãozinho vomitando? Porque aquele ali é um pequeno glutão. 
Come de tudo e um pouco mais. Nunca vi tamanha disposição. 
CROAC! Não era o cão. 
CROAC! 
Pronto! Identifiquei a origem da serenata! 
Era o ronco, para lá de esquisito, diga-se de passagem, do meu grande amor.
Meu príncipe sapo dormia a sono solto e claramente havia esquecido-se de que 
depois dos meus beijos apaixonados tomara a forma humana.
CROAC! 
E lá ia ele, a sono solto, coachando com a liberdade que só os sonhos nos permitem. 
Pela cara de satisfação, devia estar lembrando-se de alguma perereca abandonada no brejo, o safado!
CROAC! 
Deixem ele acordar! 
Muitas explicações terá que dar o cururu. 
HUMPF!
CROAC!

 
Silvia Britto                                                 Primavera de 2012

                                                                           

30 de outubro de 2012

Revivendo a vida

Revivendo a vida
Silvia Britto


Ser mãe é a oportunidade ímpar que a vida nos dá de revivê-la.
O minuto exato em que nos tornamos mãe confunde-se com o instante preciso em que nascemos de novo.
Ao som do primeiro choro e à primeira visão do nosso fruto, sentimos uma alegria imensurável. 
Com ela, atingimos a plena sensação de renascimento.
Normalmente não nos contemos ante tal emoção. Choramos.
Nesse momento, fundimo-nos àquela pequena criatura.
Tornamo-nos um só ser.
E a vida recomeça naquele momento mágico. 

Somos, mais uma vez, bebês.
Reaprendemos a enxergar o mundo através daqueles pequenos olhos.
Conseguimos adivinhar-lhes os desejos. 
Inferimos seus sentimentos e vontades pelo timbre de seus choros.
É fome. É sono. É dor. É dengo...
Cada sorriso nos faz sorrir junto e fazem
De repente, estamos reaprendendo a falar. Falando errado com eles. Repetindo seus sons.
Rimos das coisas mais óbvias.  Das situações mais simples. Do pum do palhaço.
Redescobrimos o mundo e lembramos que o céu é azul. Que o fogo queima. Que o cachorro faz au-au.
Recomeçamos a freqüentar  festas coloridas, cheias de bolas e brigadeiros. 
Quando percebemos, estamos lá no meio do salão, dançando e pulando ao som de Ilariê.
Respondemos bem alto, com toda força de nossos pulmões, qual é o nosso time, quando o mágico pergunta.
Damos vida a animais de massinha, sentamos no chão, tomamos picolé, contamos histórias, corremos no parque.

E eles vão para a escola. 
Ficamos os dois com o coração apertado e inseguros.
Quando tiram notas boas, ficamos prosas. 
Quando brigam, queremos defendê-los.
Quando dizem que são lindos, ficamos orgulhosas.
É uma sensação extremamente narcísica. 
Tomamos os elogios como se fossem pessoais.
Daí eles crescem. E nós também! 
Chega a hora de nos encantarmos com a primeira paixão. 
De nos emocionarmos com o primeiro beijo. 
De chorarmos juntos com a primeira decepção amorosa.
Dos conselhos. Dos consolos. Dos avisos.
Dos  "eu te avisei". Dos "é porque é". Dos "tá de castigo".
Das brigas necessárias para a independência.
Da luta que travam para conquistar sua individualidade.
Castigos dados também nos machucam a alma.
Doem em nós. Apesar de eles não acreditarem!

E assim vamos, vida afora com a constante sensação de déjà-vu.

Até que, finalmente, eles nos deixam.
A sensação agora é de vazio. 
O mesmo que sentimos quando saímos de casa.
Só que dessa vez estamos do outro lado. 
O vazio agora não vem mais acompanhado de excitação.
Vem acompanhado de saudade.
É como se um pedaço nos fosse arrancado.
E, como lá no começo, novamente choramos. 

Entretanto, nunca mais estaremos sós. 
Ser mãe é para sempre.
Sei que a separação física acontecerá.
Ela já ganha forma.
Ainda tenho alguma estrada a percorrer antes que esse momento me chegue.
Prossigo acostumando-me com a idéia. A vida não para. 
Mas se tudo seguir seu curso, mais uma vez renascerei.
E com esse novo renascimento aprenderei uma nova e linda palavra: vovó!
E novamente chorarei.


Primavera de 2011

                                                 
               


24 de outubro de 2012

Uma Foto Para a Prosperidade



Uma Foto Para a Prosperidade

Se vocês são como eu, amantes ferrenhos e defensores da nossa língua pátria, devem estar agora se revirando todos ante a tela, pensando estar diante de mais um energúmeno matador de idiomas.
Sinto dizer que se enganam. Talvez melhor fosse dizer, acalmem-se. Não perdi de todo o juízo.
Enquanto houver um neurônio funcionando nesta minha cabeça pirracenta, implicarei com os que tentam matar nossa linda língua, os assassinos de palavras e expressões.
Deixo bem claro que sei que faria mais sentido, e nenhuma comoção, se houvesse escrito que a foto seria para a "posteridade". Mas isso é mais do que óbvio. Todas as fotos que tiramos são para a posteridade. Mas só algumas são para a prosperidade.
Explico-me. Sempre acreditei que nossas lembranças são nosso melhor tesouro. Fazem parte do baú que carregamos atrelado ao peito e que, vez por outra, fazemos questão de exibir aos que julgamos merecer. Nesse baú próspero, guardamos as nossas melhores e caras recordações: amigos de infância, casamentos um dia felizes, colos de pai e mãe, sorrisos de avós, juventude, amores perdidos, cabelos ao vento, sorrisos sem razão, nascimentos de filhos... Enfim, todas as coisas que verdadeiramente enriquecem nossa existência.
Por isso, caros colegas e amantes do Português, não me sacrifiquem antes da hora. Espero que tenham agora compreendido meu devaneio linguístico e que ainda me tenham como uma de vocês, ferrenhos defensores das palavras, frases e orações.
Um beijo  para a prosperidade.


Silvia Britto                                Primavera de 2012

                                           

23 de outubro de 2012

Procura e Oferta

Procura e Oferta
Silvia Britto

Procura:
Preciso de alguém com as seguintes características para dançar "Unforgettable" comigo:
Solteiro, sensual, voz grave, com "pegada", mais de 50 anos, menos de 60 anos, mais de 1,70 m, com cara de mau, charmoso, romântico, bom nível social, inteligente, com senso de humor, que ME ache irresistível e que não seja GAY!
Será que existe?????

... Alguns dias depois...
Oferta:
Há alguns dias fiz um apelo procurando alguém com algumas características para dançar uma música do Nat(King Cole) comigo.
Como ninguém preencheu os requisitos, resolvi baixar um pouco a minha bola.
Pode ser alguém de qualquer idade, qualquer altura, qualquer nível social, inteligência/humor/romantismo dispensáveis,qualquer sexo, e ainda pago um jantar!
Será que nem assim?????? PUTZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

                                                                        

21 de outubro de 2012

Procura

Procura
Silvia Britto

Procurei-te no menino empoado
Que descia a ladeira
Em desabalada carreira
Montado em sua Caloi

Procurei-te nos bailes adolescentes
Onde em minha inocência faceira
Saia a dançar ligeira
Com meus falsos heróis

Procurei-te no professor de Literatura
A cuja poesia feiticeira
Me entreguei, quase inteira
Não me quis. Ainda dói.

Procurei-te nas praças
De todas as cidades do mundo
Procurei-te nos bares
De todas as esquinas da vida

Perdi-me cansada
Em desabalada carreira
Até que ao subir, cabisbaixa, a ultima ladeira
Por fim te encontrei. Te salvei meu herói

Andei, procurei
Só te encontrei em ti.
Te amo
E fim.

                                                                              
 

19 de outubro de 2012

Lição de Português


Verbo Intransitivo X Verbo de Ligação
Silvia Britto

- Filha, o intransitivo traz o sentido completo, não precisa de complemento.
Quer um exemplo? "Ele saiu". 
Precisa de algum complemento para o sentido estar completo?

- Precisa mãe: ele saiu PARA ONDE?

- Mas aí já é curiosidade sua, né? Você precisa saber aonde ele foi?

-Ué!! Então, por que é que quando você diz : "ele precisa DE QUÊ?" não é curiosidade e sim OBJETO INDIRETO?

-Ai meu Deus! Presta atenção. Se eu digo: "ele precisa" você entende tudo? Não, né? Fica faltando alguma coisa.
Agora, se eu digo "ele saiu" você entende o que aconteceu? Sim !!!

-Tá bom. E o verbo de ligação?

- Ah! Esse pode ser retirado da frase e você continua entendendo o sentido. Quer ver? 
"Ele estava feliz". Se eu retirar o "estava", você continua entendendo que ele estava feliz.

- Mas aí parece índio falando: "Ele feliz"! 
Então, posso concluir que verbo de ligação é quando se pode falar como índio?
Índio não sabe o que é verbo de ligação?

    E o pior é que eu não podia usar a máxima de todas as mães do "É PORQUE É!".
Afinal, estávamos estudando para um teste e o professor, com certeza, não iria aceitar essa resposta.
Pobres dos filhos que por tantas vezes têm que aceitá-la como verdade mais do que absoluta.

    Pelo menos ela entendia a diferença entre adjetivo e advérbio.
Então, pude simplificar com uma dica que às vezes funciona para mim:

- Depois de VL vem adjetivo e depois de VI, advérbio!

    Que me perdôem os professores de Português!

                                                                       

                                      

17 de outubro de 2012

Para você


Para você. 
Silvia Britto

Nunca fui mulher de não saber o que dizer.
...
Mas são tantos sentimentos e emoções novos...
Perco-me nas letras.
Você não chegou;
Sempre esteve em minha vida.
Quando chorava triste, pensando estar só, era seu braço que me acalentava.
O coração apertado, sem aparente motivo, era saudade de você.
Você já habita minha vida há muito tempo, só que em segredo.
Quieto, sem estardalhaço, chegou-me como um fogo que sossega a alma.
Entreguei-me sem resistir... Como não fazê-lo?
Você sabe chegar e sair na hora certa.
E por isso mesmo, não quero que saia.
Trata-me com a liberdade de um posseiro ciumento.
Não entendeu? Nem eu! Nem quero...
Sinto-me como o pior dos vícios quando me abraça.
Entrego-me a esse abraço desassossegado sentindo-me a mais rara das drogas.
Ou joias... Sei lá...
Apaixono-me novamente a cada beijo, a cada cheiro, a cada frenesi de gozo.
Não quero saber mais aonde isso me levará.
A mim basta o presente, pois sei que no meu amanhã, você estará.
Não preciso mais procurar. Achei. 
Acho que certeza é isso: quando o coração para de buscar.
Minha paixão não precisa mais marcar compromisso.
Exagero?
É... Talvez seja...
Desapegar, destemperar, perder o controle, necessitar, não ter propósito...
Viu quantos verbos novos tive que aprender a conjugar?
Talvez por isso não tenha palavras...
Ou tenho? Nem sei!
Essa mensagem é para você.
Se não entendê-la, é só me chamar que a recitarei no seu ouvido.
Um beijo, vida.
Assinado: seu amor.

                                                                      

12 de outubro de 2012

A Burocratização do Namoro


 A Burocratização do Namoro
Silvia Britto
Quando converso com a garotada mais da minha idade, os jovens há mais tempo, a opinião é sempre unânime de que, antigamente, as coisas eram muito mais difíceis. Eram necessárias três sessões de cinema, quatro sacos de pipoca e dois sundaes de chocolate até que surgisse o primeiro beijo. E ainda dos inocentes! Sem língua, que era uma maneira de "dar" da época. 
Dizem que hoje em dia as coisas estão mais fáceis do que beber Coca-Cola, que, segundo a minha mãe, também não era fácil beber àquela época... Com que facilidade nos habituamos a coisas ruins... Mas aí é outra história... Voltemos ao beijo comprado com sundae.
Pois eu, como petulante e questionadora que sou, tenho que discordar. Tudo bem que, hoje em dia, beijar parece ser a segunda coisa mais fácil em um relacionamento, perdendo exatamente para o "dar". Mas discordo que as "coisas" estejam mais fáceis.
Explico-me.
Outro dia, conversando com minha filha adolescente, consegui atualizar-me e entender a modernidade dos relacionamentos. Ao vê-la toda feliz chegando de uma festa, perguntei-lhe se a festa havia sido boa. Ela sorriu feliz e me contou que havia beijado um "carinha". Toda emocionada e quase à beira das lágrimas por constatar o crescimento de meu bebê, falei; "Que lindo! Meu bebê está namorando!" O que veio em seguida fez com que me sentisse a mais jurássica das criaturas do mundo. Ela, indignada, virou-se para mim e disse: "Ai, mãããããeeeeeeee! Claro que não, néééé?!".
Fiquei confusa. Então não fora ela própria que acabara de  dizer-me que havia beijado um "carinha"?
E veio a explicação mais do que lógica. Pasmem! Beijar, hoje em dia não quer dizer que estamos namorando! Pelo que entendi, o que se faz hoje em dia é "ficar". Um tipo de noivado para namorar, "sacaram"? Você fica uma, duas, três vezes, até perceber se quer realmente namorar aquela pessoa. É um tipo de teste para ver se o outro merece a alcunha de namorado... Mais uma vez pergunto: sacaram?
Pois é. Isso facilita a coisa chata que era ter-se que terminar com alguém quando a química não rolava. Pelo que pude entender, da segunda vez, você simplesmente "chega junto"... Se rolar, rolou! SACARAM? Se rolar mais do que três vezes, aí sim, um dos dois, para variar o menino (Atenção! Isso não mudou!) deve se encher de coragem e finalmente fazer a pergunta que vai mudar tudo: "Quer me namorar?" Aí sim! Se a menina aceitar, é o êxtase total! Só então são permitidos os passeios de mãos dadas e as idas ao cinema.
E vocês acham que tudo está mais fácil... Qual nada!

                                                                  

11 de outubro de 2012

Conjugação de Frase


Conjugação de Frase
Silvia Britto


Tenho um amigo muito querido que conhece muito bem a nossa linda língua.
É dominador absoluto de frases e orações.
Resolvi me mostrar, mostrando como estou craque em análise sintática e interpretação de texto, e enviei-lhe a seguinte frase, conjugada:




Ele me respondeu o seguinte:

“Conjugação de frase??? "Você" é sujeito??? De que verbo???
Como assim? Aprendeu mesmo?”

Tive que me defender!  Pedi ajuda aos deuses gramaticais e mandei:

“É meio que poesia, tipo assim, ironia, sacou?

Você é sujeito sim! E nesse caso muito mal! 
Nessa frase há 2 sujeitos pois o verbo AMAR, normalmente, pede 2 sujeitos.
Ninguém quer ser OBJETO do amor.Os dois sujeitos têm que realizar a ação pra dar samba.
Nesse caso o verbo é irregular, pois um sujeito ama mais que o outro.
A carga semântica é muito triste para o que sempre se fode e vazia para o que não se importa.
Vai dizer que você não sabia que frases podem ser conjugadas?
Conjugar quer dizer unir, juntar. Essa frase tá pedindo a conjugação com outra, para ter um final feliz.
Oração absoluta, pedindo para ter uma subordinada adversativa e uma conclusiva com relação a sua semântica real e triste. Parafraseando, com o novo sentido, ficaria assim:

Eu lhe amo e você pouco se importa PORÉM sei que você só tá fazendo doce PORQUE não vive sem mim.

Ou seja, o EU quer que o VOCÊ passe a se importar.

Isso é Português Pós-Moderno Interpretativo.
Sou uma expert no assunto.
Depois te dou um curso de atualização, formô?
Aprendi ou não aprendi??????????”

Ele teve que se render ao meu talento interpretativo...
E terminou sua mensagem enviando-me um beijo gramatical. Único! Absoluto.

7 de outubro de 2012

Waldysney e Alani Marizzetti, uma dupla bem brasileira

Esta quem me contou foi a Silvia, que é dentista e foi atender um jovenzinho acompanhado de sua mãe no Posto de Saúde em que trabalhava, ao ler a ficha do rapazote estranha o nome: Waldysney, e pergunta à mãe se o estranho nome era em homenagem a algum parente ou artista. Resposta:
- É sim, ao pai do Mickey...- responde ela, orgulhosa.
O Walt Disney deve estar obeso de felicidade com tão justa homenagem, assim como a cantora Alanis Morissete, que foi homenageada por outra mãe que batizou sua filha com o nome da artista, aportuguesado, como deve ser: Alani Marizzetti.
Vão votar...anda...Saco!

                                                                                         

5 de outubro de 2012

Paz no Inferno


 Paz no Inferno
Silvia Britto

Meu coração finalmente encontrou a paz.
Não a paz dos contos de fadas que essa, além de não existir, é muito chata e monótona.
Quem quer saber de príncipes encantados engomadinhos, cavalos brancos, castelos encantados, que devem dar um trabalho enorme para limpar, e felicidade para sempre?
Felicidade demais cansa! De nada valeria se não fosse entremeada de tristezas e decepções para que pudéssemos valorizá-la.
Falo da paz do mundo real. Dos que ousam sonhar acordados.
Aquela paz que perturba, nos deixa inseguros, faz nosso coração bater desacelerado e nos faz tanto bem.
Não há nada que me traga mais paz do que acordar e ficar ansiosa, pensando se estarei sendo correspondida nas minhas loucuras.
Nada mais tranquilo do que os momentos que se seguem após o amor selvagem e sôfrego.
A paz do mundo real nos tira da acomodação e da mesmice.
Descobrimos que aquele papo de "não sou ciumento", "quero ser independente", "não gosto de andar na chuva", é tudo balela.
Papo de raposa sem acesso às uvas.
Bom mesmo é morrer de ciúmes. Ser posse e proteção.
Acabar-se de rir e chorar, tal qual sol e chuva.
E foi isso que eu encontrei. 
Graças à meninice da minha alma curiosa e ousada, e à cretinice dos amores bandidos.
Finalmente estou em paz no inferno da vida.
Amo você, meu contrabandista de gozos, cafetão da minha alma, boêmio da vida!
Obrigada por trazer paz e dasassossego à minha estrada, que agora é sua também.
Dê-me sua mão. 
Vamos caminhar.