12 de agosto de 2010

Solidões

Venho reparando há alguns dias o namoro de um casal aqui perto de casa. Pela manhã, desço, compro o jornal , me sento na porta do boteco e fico ali lendo e conversando fiado com o pessoal. Nos últimos dias, invariavelmente, um homem negro chega e vai se encontrar com sua namorada atrás da banca de jornal. Conversa, faz-lhe carinho, passando suavemente a mão por seu pescoço, depois no rosto, beija-a afetuosamente, afaga-lhe os belos cabelos negros, beija seus lábios carnudos, volta a conversar com ela, sempre fazendo algum carinho. É delicado e meigo, o homem, e apaixonado, vê-se logo pelo seu semblante. Fica ali com sua amada por uns vinte minutos em um namoro terno e suave, eivado de delicadeza e paixão. Depois dá um último beijo nos lábios da amada e se vai. Com os punhos fechados vibra como se tivesse feito um gol e some na esquina seguinte.
Na primeira vez que presenciei o namoro ri, riso debochado, afinal a amada do homem é um outdoor em que uma bela modelo faz propaganda de um shampoo. Ele, um mendigo aqui da área e tido como maluco-beleza, se apaixonou perdidamente pela bela morena da propaganda. Hoje fiquei triste, breve vão levar sua amada e ele voltará à sua solidão no mundo. Quantas solidões carregará aquele pobre homem?! Breve carregará mais uma...


2 comentários:

  1. Simplesmente maravilhoso, amigo Zatonio!
    Texto delicioso, sensível, escrito na medida mais exata para reflexão.
    Solidões...
    Tenho refletido, ultimamente, sobre o tema.
    Incrível: neste planeta enorme, alguns são absolutamente sós... E quando encontram, finalmente, seu outdoor, vem alguém e o leva embora...
    Parabéns!
    Grande abraço

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  2. Hermoso, profundo y sentido. Siempre un placer leer tus brillantes escritos. Enhorabuena.

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