Venho reparando há alguns dias o namoro de um casal aqui perto de casa. Pela manhã, desço, compro o jornal , me sento na porta do boteco e fico ali lendo e conversando fiado com o pessoal. Nos últimos dias, invariavelmente, um homem negro chega e vai se encontrar com sua namorada atrás da banca de jornal. Conversa, faz-lhe carinho, passando suavemente a mão por seu pescoço, depois no rosto, beija-a afetuosamente, afaga-lhe os belos cabelos negros, beija seus lábios carnudos, volta a conversar com ela, sempre fazendo algum carinho. É delicado e meigo, o homem, e apaixonado, vê-se logo pelo seu semblante. Fica ali com sua amada por uns vinte minutos em um namoro terno e suave, eivado de delicadeza e paixão. Depois dá um último beijo nos lábios da amada e se vai. Com os punhos fechados vibra como se tivesse feito um gol e some na esquina seguinte.
Na primeira vez que presenciei o namoro ri, riso debochado, afinal a amada do homem é um outdoor em que uma bela modelo faz propaganda de um shampoo. Ele, um mendigo aqui da área e tido como maluco-beleza, se apaixonou perdidamente pela bela morena da propaganda. Hoje fiquei triste, breve vão levar sua amada e ele voltará à sua solidão no mundo. Quantas solidões carregará aquele pobre homem?! Breve carregará mais uma...

Simplesmente maravilhoso, amigo Zatonio!
ResponderExcluirTexto delicioso, sensível, escrito na medida mais exata para reflexão.
Solidões...
Tenho refletido, ultimamente, sobre o tema.
Incrível: neste planeta enorme, alguns são absolutamente sós... E quando encontram, finalmente, seu outdoor, vem alguém e o leva embora...
Parabéns!
Grande abraço
Hermoso, profundo y sentido. Siempre un placer leer tus brillantes escritos. Enhorabuena.
ResponderExcluir