Robin Williams foi mais uma vítima do álcool e da cocaína

O ator americano Robin Williams, encontrado morto nesta segunda-feira, aos 63 anos - Jason Kempin/Getty Images

O consagrado ator Robin Williams foi encontrado morto em sua casa ontem na cidade de Tiburon, Califórnia, EUA. Segundo as primeiras informações o ator cometeu suicídio.

Geralmente, quando pessoas famosas morrem desse modo, o público em geral pergunta, ainda que inconscientemente: Mas por que se matou, ele tinha tudo, era rico, famoso, querido?

Porque antes de ser isso tudo, era um ser humano com suas fragilidades e uma doença grave, era um dependente químico e lutou vários anos contra sua adicção. Álcool e cocaína. Dependência cruzada.

Williams foi internado algumas vezes, conseguiu ficar limpo por algum tempo, mas voltou a beber em 2003. Ultimamente, segundo afirmou em uma entrevista dada em 2010,estava frequentando Alcoólicos Anônimos ( AA).

O alcoól é, longe, a droga que mais desgraça provoca no mundo- só no Brasil são cerca de 20 milhões de dependentes. Por ser uma droga legal e aceita socialmente ( além de glamourizada pela poderosa indústria que a cerca ), é quase sempre a porta de entrada da juventude para o  mundo da adicção.

Proibir e reprimir não resolve nada, o melhor são campanhas preventivas e cuidar da melhor maneira possível dos dependentes- o que não é nada fácil e só funciona quando o mesmo aceita que é um doente e resolve procurar ajuda. Para agravar a situação, a maior parte das famílias, por uma série de fatores ( vergonha é um deles ), tende a esconder e também não aceitar que um dos seus é um doente, um adicto, um dependente químico. Não escondam o problema e procurem ajuda- a família também fica emocionalmente doente ao conviver com um alcoólatra, por exemplo. Ser um doente, ou conviver com um, não é motivo de vergonha.

Que o Robin Williams descanse em paz.

Se vocês não desistem de mim, eu não tenho o direito de desistir da minha vida!

O prédio, um velho teatro desativado. Decadente e mal-cuidado, mas com o a entrada e o corredor limpos. Numa pequena sala dos fundos, um grupo formado por cerca de 25 pessoas começam mais uma reunião de Alcoólicos Anônimos. A Oração da Serenidade: Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária 
para aceitar as coisas que não podemos modificar, 
Coragem para modificar aquelas que podemos, 
e Sabedoria para distinguir umas das outras.

Um homem é chamado para dar seu depoimento: “Bom dia, companheiros! Meu nome é Jair e comecei a beber com oito anos. Meu pai abandonou minha mãe e quando eu tinha oito anos ela morreu...  Nasci em Campos. Na época tinha um circo por lá. Comecei a fazer pequenos trabalhos pro pessoal do circo,  em troca me davam comida e cachaça, que eu ia nos botecos comprar pra eles.Mesmo bebendo trabalhei a vida toda. Consegui me casar e tenho um casal de filhos. O rapaz tá com 28 anos. É formado em advogado e já tem até carro! É meu maior orgulho! Mas se afastou de mim por causa de minhas bebedeiras... A menina não fala comigo tem anos. Hoje tenho 53 anos, conheci o AA tem seis anos. Mas ainda não conseguiu ficar mais de um ano direto sem beber! Sei que é doença, que não devo, não posso e não quero mais beber... Mas, pra mim é muito difícil. Me dá uma coisa e volto pro inferno! Perco tudo o que consegui nos meses que fiquei  aqui com vocês... Volto pras ruas, viro mendigo novamente! Penso em desistir... Mas não posso mais! Lembro da sala, do carinho dos companheiros, dos meses que fiquei sem beber e volto! Aqui sou tratado como gente e uma hora esse Poder Superior vai me dar a graça de não recair mais! Se vocês não desistem de mim, eu não tenho o direito de desistir da minha vida! Muito obrigado por terem me ouvido e muitas 24 horas para todos!

Um homem em luta por sua sobriedade, por sua dignidade. Só por hoje, sempre.

Um homem que vai se suicidando um dia de cada vez

- Como está nosso amigo?
- Rapaz, tem jeito não... Voltou com tudo: tá bebendo, cheirando e fumando! Mesmo depois de perder três dedos dos pés por causa da diabete e da má-circulação sanguínea.
- Eu te avisei, ele não aceita que é um doente, um dependente químico e vai ter um fim triste. É rezar para na próxima crise morrer logo, caso contrário vai ficar por aí entrevado e sem ninguém para cuidar dele. Os pais não querem mais saber, os amigos de verdade idem, quando acabar o resto do dinheiro da venda da casa, pode se preparar, se não estiver entrevado ou morto, vai te pedir para morar em seu sítio, quer apostar?
- Já pensei nisso... Nem sei o que vou fazer se isso acontecer.
- Melhor pensar, pois pelo visto não vai demorar. A doença é progressiva e ele já está fisicamente fragilizado pela diabete e pela idade,  está com 53 anos e leva essa vida louca há mais de 30. Nem sei como resistiu tanto sendo diabético desde novo.
- É complicado, e não podemos fazer nada, né?
- Não, nada, só pode-se ajudar quem quer ser ajudado e ele não quer. Conhece o AA ( Alcoólicos Anônimos ) e o NA ( Narcóticos Anônimos ), mas não aceita que é um adicto, um doente, então nada podemos fazer. É triste, mas esta é a dura realidade. Eu tentei várias vezes, você se lembra, ele frequentava os grupos por um tempo, era só a situação melhorar um pouco, algum dinheiro no bolso, que recaia. Digo sempre, pela experiência que tenho, que para alguns dependentes químicos a pior droga é o dinheiro, pois lhes proporciona o que mais desejam: o prazer imediato.
- Bem, vamos orar para ver se ele se renda e peça ajuda, é só o que podemos fazer no momento. Vou pra reunião do AA... Abraço!
- Abraço... Só por hoje, sempre.

Dar de graça o que recebemos de graça

- Preciso de sua ajuda- diz o Almir.
- Diga lá, em que posso ajudar?
- Tive uma reunião hoje à tarde com a diretora de uma instituição de jovens infratores e ela quer a ajuda de Alcoólicos Anônimos.
- Para dar palestras para os jovens?
- Aí é que está o grande problema, a maioria deles têm problemas de alcoolismo e drogadicção em casa: pai, mãe, irmãos... A diretora da instituição quer ver se consegue reunir os parentes para possamos levar a mensagem de AA para eles. E preciso de você para me ajudar nessa empreitada. Dar de graça o que recebemos de graça... Tá difícil trabalhar, poucos voluntários para levar a mensagem. As pessoas estão a cada dia mais individualistas e egoístas, mas não podemos perder a fé! Posso contar com você?!
- Pode, vamos lá... Façamos a nossa parte. Tem muita gente que nem sabe que alcoolismo é uma doença incurável e de determinação fatal, mas que pode ser detida. Afinal, ninguém nasceu bebendo cachaça, mas leite!
- Pois é, mas como é difícil aceitar nossa impotência, que fomos derrotados, e só quando o fazemos, nos rendemos completamente a alguma coisa mais forte que nós- no caso o álcool- é que podemos vencer. Bem, eu te ligo para avisar o dia da palestra...