A presidente Dilma Roussef foi à televisão ontem falar sobre os protestos que varrem o País. Disse algumas obviedades, como condenar a violência de alguns grupos e propôs um grande pacto nacional envolvendo governadores e prefeitos. Uma impossibilidade, quanto mais se lembramos que ano que vem tem eleições presidenciais e seus opositores querem mais é que ela sangre, perdendo popularidade, até a realização do pleito.
Mas uma frase me chamou a atenção no discurso presidencial: - "É um equívoco que a sociedade prescinda de partidos políticos."
Essa frase vem sendo dita por alguns analistas políticos também, mas contém o maior dos equívocos e pode explicar um dos principais motivos dos atuais protestos: não foi a sociedade que se afastou dos partidos, é exatamente o contrário, foram eles que se afastaram da sociedade. E o maior exemplo do que afirmo é o próprio partido da presidente, o PT, que desde sua fundação era o único partido capaz de mobilizar a população e ao assumir o poder se afastou de suas bases e de sua história de lutas. Acomodou-se às benesses do poder, cooptou os movimentos sociais e entregou todo o poder de decisão a um único homem, que setores majoritários ( e autoritários ) do partido transformaram em um deus-vivo: Lula. Que aceitou o papel de todo-poderoso. A própria indicação de Dilma como candidata do partido comprova o que digo, foi uma escolha pessoal do deus-vivo petista. O mesmo ocorreu com Fernando Haddad em São Paulo nas eleições para eleger novos prefeitos realizadas ano passado, com Humberto Costa no Recife- aqui deus foi fragorosamente derrotado- e em outros cidades.
À época da ditadura militar, o partido que dava respaldo civil aos milicos, a ARENA, era chamada de partido do "sim Senhor", por ser inteiramente subserviente aos ditames do general de plantão no poder; o PT, que tem suas origens na luta contra a ditadura, ironicamente, se transformou em algo parecido, no partido do "sim meu Deus!"
Se ainda der tempo e a rebelião social difusa que levantou o País arrefecer- o que é provável que aconteça- que os partidos, principalmente o PT, pensem nisso. Foram eles que se afastaram da sociedade, montaram um grande condomínio para partilhar o estado entre os seus e agora estão colhendo o que plantaram.
Dilma perdeu uma excelente oportunidade de dar uma resposta contundente e começar a mudança se em seu discurso de ontem anunciasse, por exemplo, a extinção de alguns dos 40 ministérios ( outro exemplo da partilha do estado que cito acima ), um absurdo completo, de seu governo.
Agora... Bem, agora é rezar e nos mobilizarmos para impedir qualquer tentativa de golpe. Não para defender o governo, mas a democracia, que nos custou sangue, suor e lágrimas. Não podemos permitir que mais uma longa noite de trevas infelicite a Nação. A última durou 21 anos. E os abutres acordaram...
