1 de outubro de 2021

Sobre preconceitos

 Sobre preconceitos

Ontem (30), o senador capixaba Fabiano Contarato deu um depoimento que ao seu término já tinha se tornado um libelo histórico contra todo tipo de preconceito.
Fiquei com as imagens da fala emocionante de meu ilustre conterrâneo na mente e comecei a refletir o quanto de preconceito foi introjetado em mim quando criança em São José do Calçado, a pequena cidade onde nasci, que fica no Sul do Espírito Santo.
Cresci ouvindo coisas assim: "Fulano é um crioulo de alma branca", "preto quando não caga na entrada caga na saída" e outras monstruosidades do gênero. Em casas de famílias mais abastadas, não raro, tinha sempre um "neguinho de estimação" usado para fazer pequenos serviços domésticos, levar recados e buscar compras nos armazéns da cidade. Como pagamento recebiam um prato de comida, às vezes uns trocados e um canto pra dormir. Resquícios da escravidão em plena década de sessenta do século XX.
No Montanha Clube, "preto não entrava", só os adotados por alguma família abastada do município; no "clube da crioulada", como muitos chamavam o Clube dos Operários, todos podiam entrar, principalmente homens brancos em busca de sexo com uma "mulatinha" ou uma "neguinha".
Homossexuais assumidos haviam três. Vítimas de todo tipo de preconceito.
Nem vou tratar da submissão feminina, que era outro horror!
Quando fui tomando consciência do mundo, fui percebendo quanto "lixo" eu ingeri e comecei uma longa luta interna, que dura até hoje, para tentar ser uma pessoa melhor.
Não é fácil lutar contra preconceitos que são introjetados em nós desde a infância. Somente após assumir que era uma pessoa preconceituosa, ainda que muitas vezes não tivesse consciência do fato, comecei a mudar- o que, repito, não é fácil, é um processo lento e doloroso de autoconhecimento.
No mais, resta-me perdi perdão a todos a quem julguei pela cor da pele, pela orientação sexual ou por comentários e atitudes machistas que já pratiquei.
Zatonio Lahud
Foto: Alunos e professores do Colégio de Calçado por volta do fim dos anos 40 ou início dos 50 do século passado. Contei 41 pessoas na foto e uma única aluna negra.

Preconceito de cor, sexo e contra mulheres


30 de setembro de 2021

PROFESSORA DE PORTUGUÊS DANDO AULA- Vivian Cabrelli Mansano

 PROFESSORA DE PORTUGUÊS DANDO AULA

(Texto de Vivian Cabrelli Mansano)
"Não sou homofóbica, transfóbica, gordofóbica.
Eu sou professora de português.
Eu estava explicando um conceito de português e fui chamada de desrespeitosa por isso (ué).
Eu estava explicando por que não faz diferença nenhuma mudar a vogal temática de substantivos e adjetivos pra ser "neutre".
Em português, a vogal temática na maioria das vezes não define gênero.
Gênero é definido pelo artigo que acompanha a palavra.
Vou mostrar pra vocês:
O motorista. Termina em A e não é feminino.
O poeta. Termina em A e não é feminino.
A ação, depressão, impressão, ficção. Todas as palavras que terminam em ção são femininas, embora terminem com O.
Boa parte dos adjetivos da língua portuguesa podem ser tanto masculinos quanto femininos, independentemente da letra final: feliz, triste, alerta, inteligente, emocionante, livre, doente, especial, agradável, etc.
Terminar uma palavra com E não faz com que ela seja neutra.
A alface. Termina em E e é feminino.
O elefante. Termina em E e é masculino.
Como o gênero em português é determinado muito mais pelos artigos do que pelas vogais temáticas, se vocês querem uma língua neutra, precisam criar um artigo neutro, não encher um texto de X, @ e E.
E mesmo que fosse o caso, o português não aceita gênero neutro. Vocês teriam que mudar um idioma inteiro pra combater o "preconceito".
Meu conselho é: ao invés de insistir tanto na coisa do gênero, entendam de uma vez por todas que gênero não existe, é uma coisa socialmente construída.
O que existe é sexo.
Entendam, em segundo lugar, que gênero linguístico, gênero literário, gênero musical, são coisas totalmente diferentes de "gênero". Não faz absolutamente diferença nenhuma mudar gêneros de palavras. Isso não torna o mundo mais acolhedor.
E entendam em terceiro lugar que vocês podiam tirar o dedo da tela e parar de falar abobrinha, e se engajar em algo que realmente fizesse a diferença ao invés de ficar arrumando pano pra manga pra discutir coisas sem sentido.

29 de setembro de 2021

Resposta do Barão ao "eurocentrismo" preconceituoso do técnico do Palmeiras

 Eurocentrismo do técnico do Palmeiras

Ontem (28), após o empate por 1 x 1 que eliminou o Atlético-MG, e levou o Palmeiras a mais uma final de Libertadores, Abel Ferreira, o técnico palmeirense, em tom desafiador, afirmou que era europeu, português, e que por esse motivo o único objetivo dele era vencer, e que não abria mão disso. Além de cantar loas ao futebol luso, citando os grandes José Mourinho e Cristiano Ronaldo.
Pensei cá com meus botões, que gajo prepotente!
Aos fatos
Jogos entre Brasil x Portugal: 20
Vitórias do Brasil: 13
Vitórias de Portugal: 4
Empates: 3
Conquista de Copa do Mundo
Brasil: 5- o maior vencedor
Portugal: 0
Conquista de Copa das Confederações
Brasil: 4- o maior vencedor
Portugal: 0
Não vou nem citar nossa lista de craques...
Vai se foder, seu Abel eurocentrista!
💩💩💩💣💣💣😡😡😡😱😱😱😲😲😲

28 de setembro de 2021

É preciso resgatar a camisa da seleção brasileira das mãos dos fascistas

 A camisa da seleção

Todas as nações têm seus símbolos. Nos EUA o principal, mas não o único, como nos demais que vou citar, é a bandeira nacional; a França tem em seu vibrante hino nacional, A Marselhesa, o culto maior; os ingleses amam sua família real e assim sucessivamente.
E o Brasil? Bom, o Brasil, que um dia já foi chamado de "a pátria de chuteiras" por Nélson Rodrigues, tinha como principal símbolo de união nacional a camisa da seleção brasileira de futebol.
Nossa seleção tem uma representação que vai muito além de nossas fronteiras. Viramos o representante do chamado terceiro-mundo entre os grandes do futebol mundial. Em África, no Haiti, nos países pobres em geral, o futebol brasileiro é cultuado e amado. Nós, que temos a maior população negra fora do continente africano, jogamos de igual para igual, quase sempre melhor, que os países colonizadores europeus, como Alemanha, Itália, Inglaterra, Espanha e França. Somos os maiores vencedores dos dois mais importantes torneios patrocinados pela Fifa: a Copa do Mundo e a Copa das Confederações. E isso enche de orgulho e esperança os deserdados do mundo.
Não raro, em reportagens realizadas em qualquer país pobre da Terra, vemos alguém envergando orgulhosamente a "amarelinha", a mais cultuada camisa do futebol mundial!
O futebol brasileiro representa os pobres do mundo, e em nome deles precisamos resgatar a camisa de nossa seleção das mãos dessa extrema-direita asquerosa que tomou conta do Brasil e, indevidamente, se apropriou de nosso maior símbolo de união nacional.
Foto: Em 2004, o povo do Haiti recebe os jogadores seleção brasileira como verdadeiros heróis.

É preciso resgatar a camisa da seleção brasileira das mãos dos fascistas


27 de setembro de 2021

Mente, o presidente

Só mente, o presidente
Bolsonaro, diariamente, mente.
Mente desavergonhadamente pra toda nossa indigente gente!
Mente que nem sente,
o genocida demente!
Mente deslavadamente,
o fascista prepotente!
Mente impunemente,
o sociopata presidente!

Mente despudoramente,
o primeiro-corno impotente!
Infelizmente, o infeliz mente até
quando está com dor de dente!
💩💩💩😶😶😶😡😡😡😨😨😨😈😈😈💣💣💣

SOBRE O EMPREGO DA PALAVRA FASCISMO - Antonio Risério

 SOBRE O EMPREGO DA PALAVRA FASCISMO

De passagem, aproveito para um esclarecimento aqui sobre os sentidos em que emprego a expressão fascismo. Porque tem um pessoal político-acadêmico aí procurando sempre dizer que não posso usar a palavra fascismo para falar da esquerda multicultural-identitária, até porque o fascismo estaria vinculado ao aparelho de Estado, como vi recentemente no programa de televisão chamado “Linhas Cruzadas” (TVE), onde uma apresentadora (chamada Thaís Ohama, se não me falha a memória) fez esta observação a propósito de uma declaração que dei, no que foi rebatida pelo jornalista Luís Pondé, argumentando corretamente com a prática do dirigismo mental e discursivo, que pode, sim, ser tratada como fascista. Bobagem da apresentadora. Na verdade, o que se quer evitar é que este ou aquele segmento de esquerda – no caso, a diversidentitária – seja tratado como fascista, como se a palavra devesse ser guardada apenas para caracterizações da direita e da extrema-direita. Bem: uso a expressão em dois sentidos. Quando falo de fascismo italiano, estou recorrendo ao conceito histórico, obviamente. Afora isso, emprego a palavra no sentido comum, corriqueiro, que ela assumiu na língua que falamos diariamente. Aqui, se a apresentadora citada trocasse o manual de politiquês pelo velho e bom Pai-dos-Burros, que é como as pessoas se referiam antigamente aos dicionários, ela se descolaria do burocratismo mental da academia – e entenderia perfeitamente o que quero dizer. Tome-se, por exemplo, o pai-dos-burros intitulado Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Vê-se ali que o sintagma fascismo tanto diz respeito a um tipo de regime como o instalado por Mussolini na Itália, em 1922, quanto à prática de tentar exercer forte controle sobre mentes alheias, vigiando, constrangendo e mesmo punindo pensamentos e condutas. É assim que falo de fascismo a propósito da violenta repressão identitária às liberdades de pensamento e expressão. Não só eu – alguns dos maiores intelectuais de nossa época, pretos ou brancos, mulheres ou homens. Camille Paglia, por exemplo, denuncia “o fascismo do movimento contemporâneo das mulheres”. E dá uma bela lição a todos: “Meu feminismo libertário, que toma o seu melhor tanto do liberalismo quanto do conservadorismo, mas não é decididamente nenhum dos dois, coloca a liberdade de pensamento e expressão acima de toda e qualquer ideologia. Sou primeiramente uma intelectual – e só secundariamente uma feminista”. Antonio Riserio

Nascido em Salvador em 1953, Risério é antropólogo, poeta, ensaísta e escritor. Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Bahia – UFBA, é autor, entre outros livros, de “A casa no Brasil”, “A utopia brasileira e os movimentos negros”, “Adorável comunista” e “O poético e o político”.

26 de setembro de 2021

Betina Bakunin, a lagartixa anarquista, promove o primeiro festival Reggae in Brasília

 I Reggae in Brasília

Entrei em casa e quase tive um troço! Uma densa e cheirosa nuvem de cannabis sativa, a popular maconha, enevoava o ambiente. Som de Bob Marley como trilha sonora.
Betina Bakunin, a lagartixa anarquista que é minha companheira de confinamento, resolveu promover uma festa e, ao que parece, convidou todas suas amigas ervoafetivas da espécie Hemidactylus mabouia para participar.
Agora, bem, agora estou confinado em meu próprio quarto até a festa acabar. Saco!

Betina Bakunin, a lagartixa anarquista, promove o primeiro festival Reggae in Brasília