Se há um Deus que regula o futebol, esse Deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um Deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho.( Carlos Drummond de Andrade )
Pernas tortas, quase um aleijado; inocente, pueril mesmo; alcoólatra; nascido em um lugar miserável. Tudo para ser mais um infeliz a vagar por esta terra e morrer como veio ao mundo: ignorado por todos, tirante os que lhes fossem próximos. Mas, apesar dos pesares e apesares, foi um dos maiores gênios que o futebol já produziu. O homem que venceu uma Copa do Mundo "sozinho".
A seleção brasileira que foi disputar a Copa de 1962 no Chile estava envelhecida. Vários de nossos craques estavam acima dos 30 anos e nossas esperanças estavam colocadas nos pés de Pelé, já coroado como rei do futebol, e Mané Garrincha, a alegria do povo.
No segundo jogo da Copa, contra a Tchecoslováquia, Pelé se contunde seriamente e não joga mais no torneio. Pânico no Brasil!
Eis que Garrincha assume a responsabilidade, se agiganta em campo e passa a jogar por si e por seu genial companheiro.
Suas soberbas atuações nos trazem o bicampeonato mundial de futebol. Jogou tanto Mané que o jornal chileno El Mercurio estampou em uma manchete a seguinte pergunta: "De que planeta veio Garrincha?!"
Anos depois, em um janeiro de 1983, com apenas 49 anos, "o anjo das pernas tortas", a "alegria do Povo", é encontrado caído em um subúrbio perdido do Rio de Janeiro. Morreu no meio de seu povo, que tanto o amou.
Mané Garrincha foi, é, e será para todo o sempre, o mais amado e querido jogador guardado na memória afetiva do povo brasileiro
Não foi rei, príncipe ou imperador, foi muito mais que isso, foi a alegria do seu